“Resiliência escolar é a capacidade do indivíduo ficar na Escola, apesar dum conjunto de características dos subsistemas (o próprio indivíduo; a família; a escola; o meio envolvente) que motivariam para o abandono escolar. Explica-se também pela interacção positiva que se estabelece entre os mesmos subsistemas, muitas vezes por intervenção externa de natureza preventiva”1 . Sendo certo que o problema do abandono escolar é multifacetado, as iniciativas profilácticas serão sempre mais eficazes quanto maiores forem as sinergias desencadeadas.
Reconhecemos a existência de inúmeros constrangimentos que limitam a acção das escolas nesta matéria: Um espartilho legal excessivamente rígido, reduzidas expectativas dos alunos e famílias, docentes desencorajados pela intensificação do trabalho, órgãos de gestão pressionados pela escassez do tempo relativamente ao ritmo das mudanças. Determinados pela vontade de colaborar, intervir e querer alterar as circunstâncias, o núcleo do desporto escolar avança com uma proposta que visa integrar os alunos na escola e apoiar o seu desenvolvimento integral. O desporto escolar apresenta-se como um instrumento para cumprir este grande desiderato que é a resiliência escolar.
O desporto escolar é uma actividade livre. Os alunos acedem ao desporto escolar porque vêem nele algo de positivo. Mas nem sempre a oferta desportiva na escola encontra eco na mobilização dos alunos e nessas circunstâncias, caberá à escola (o desporto escolar terá de ser um projecto de escola) rever e reformular as suas propostas. Quando a adesão dos alunos é elevada não restará outra alternativa. Há que procurar facultar as condições físicas e humanas para responder às necessidades de prática dos alunos e não ceder aos obstáculos de natureza administrativa.
Sem propostas inovadoras e medidas concretas, o risco de ficarmos enlaçados numa retórica iníqua é elevado. O abandono escolar precoce não espera pelas vagarosas decisões governamentais. Caberá à escola encontrar a(s) forma(s) mais apropriada(s) para resolver os problemas escolares dos alunos escolhendo o acto educativo como a oportunidade da escola intervir no processo de formação do aluno. Sempre que o aluno se distancia das actividades lectivas, ou extra-lectivas, inviabiliza o acto educativo. E é nesta medida que nos damos conta do potencial das actividades extra-lectivas, nomeadamente, das iniciativas do desporto escolar. As actividades intra-muros têm merecido uma participação alargada dos alunos constatando-se, também, a adesão alargada dos alunos com maiores dificuldades de integração na escola. E que casos são estes?
A detecção dos casos mais graves de integração, comportamentos desviantes e absentismo escolar pode ser realizada, numa primeira fase, pelos professores de Educação Física que leccionam as turmas do 3º ciclo e, numa fase posterior, pelo presidente do Conselho Executivo após analisar, juntamente com a sua equipa de trabalho, os relatórios dos directores de turma e dos serviços de orientação escolar. Obviamente que esta dinâmica de trabalho não serve de padrão porque depende de uma teia de lideranças muito próprias de cada escola. Deixemos que cada escola encontre a melhor forma de detectar os alunos em risco de abandono. E que alunos são estes?
São alunos cujas regras de comportamento se afastam do modelo de formato único, convencional, desejado pela instituição escolar. São alunos que precisam de aprender como se respeita o outro. São alunos que precisam de ser apreciados, estimados, ajudados. São alunos que, normalmente, são afastados das organizações desportivas porque atraem problemas, desacatos e desordem. São alunos que nem sempre aguardam pela segunda oportunidade.
É neste contexto que emerge a seguinte questão:
Como quantificar e qualificar a prática desportiva? E para quê?
1 Ministério da Educação/Ministério da Segurança Social e do Trabalho – Plano Nacional de Prevenção do Abandono Escolar. Documento síntese, p. 5, Março de 2004.
segunda-feira, junho 27, 2005
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7 comentários:
Os professores ainda vivem num outro espartilho o de avaliar tudo pela mesma bitola. Daí que seja difícil avaliar a questão do benefício do desporto escolar. Pena é que a questão do rendimento não se liberte de preconceitos e se pense de uma vez por todas que este não está forçosamente ligado ao resultado desportivo em si. Julgo que quem estiver a ler o que escreve, deve estar dizendo para si mesmo: mas que raio, este tipo não escreveu nada que não se saiba.
O problema é que apesar de não ser novo está longe da prática corrente. Na maior parte dos casos o DE está demasiado parecido com o desporto federado, sendo que, esta aproximação impede, ou dilui o que mais importante tem as actividades extra-curriculares, que é a sua acessibilidade a todos. Infelizmente o que chamo de “prática do funil” volta a acontecer, a selecção faz-se, acabando sempre por ficar de fora os mesmos (quando os regulamentos permitem a competição com federados, então a cópia é fiel), ou seja o gordinho o magrinho e desajeitado.
As práticas inovadoras devem evitar que se repita no DE o mesmo que acontece no DF, sob risco de perdermos uma óptima estratégia de estimular a resiliência escolar, diria mais, a resiliência na sua verdadeira acepção.
PS: MIguel, julgo que tenho um texto acerca da resiliência muito interessante, posso te passar
terei todo o gosto para tal mndem-me o vosso mail
Este meu comentário vem reforçar as palavras do prof. Amândio. Há medida que penetramos nas possibilidades do desporto emerge a descoberta das fragilidades da organização escolar. Se por um lado a resiliência vem relativizar o tal fatalismo que está inscrito no nosso código genético revela, também, as disfuncionalidades da escola, nomeadamente, a falta de coordenação e de comunicação intra-muros, o baldio pedagógico que transforma os projectos de escola em ilhas, o individualismo que marca as relações profissionais. Há medida que o professor de EF procura maximizar os seus esforços à procura do trabalho cooperativo vai, paradoxalmente, encontrando motivos para se remeter ao isolamento. É neste quadro que a mudança do desporto escolar terá de assentar.
Henrique
Sugiro que transformes o teu comentário anterior numa entrada. É que tive de o copiar para o Word para me facilitar a leitura. (pelo que li haverá matéria para ser comentada ;))
1.A resiliência é uma moda?
Desejo que o estado neoliberal que muitos querem construir e os políticos que nos representam não transformem a escola em algo de prescindível. Quando isso acontecer a resiliência não fará qualquer sentido.
2.O isolamento e a balcanização disciplinar conduz ao acriticismo?
As práticas colaborativas não dependem, embora possam ser estimuladas, da organização escolar. A formação das crenças e concepções sobre a profissão é um processo que se inicia muito cedo e recua ao tempo de estudante. Continua na formação inicial e prossegue o seu caminho através da socialização do professor nos primeiros anos de prática. Isto para dizer que todos nós podemos participar na alteração deste quadro. E é uma pena que esta pequena tertúlia não encontre eco nas escolas onde trabalhamos. Que não sejamos capazes de mobilizar as nossas pequenas comunidades para a partilha de experiências. Que nos rematamos às nossas alienantes certezas.
3.“O desporto infantil e o desporto de formação devem e possuem características próprias. Pode haver bons técnicos de formação que sejam maus treindores na competição de outro nível e vice-versa. Mas tanto num caso como noutro, os processos formativos devem passar por períodos de formação inicial, seguidos de formação em acção sob a coordenação de técnicos de reconhecido mérito.”
Concordo com esta ideia. Como impedir que os mercenários se transformem em professores? As escolas de formação inicial têm responsabilidades nesta matéria.
Como o texto é denso, deixo para mais tarde a continuação do meu comentário.
“A formação de base, a formação físico desportiva de toda a população é um parente pobríssimo das políticas públicas e das que a esta área concernem. E como já há alguns anos se sabe, que para obter altos rendimentos desportivos em alguns sectores, há caminhos menos onerosos e mais afunilados do que preconizar uma formação generalizada de base, que embora contenha em si a possibilidade de vir a produzir também “campeões”, os seus objectivos primários são de natureza educativa e de saúde pública. E os políticos habilidosos que querem ganhar eleições vão geralmente pelos primeiros caminhos “espectaculares”.”
4.Não percebi. Que caminhos menos onerosos e mais afunilados são esses? A formação generalizada de base não dispensa a escola e sugeres um reforço do modelo prática piramidal, é isso?
“No basquetebol, (ou no futebol, etc,) é o passe, o drible, o fetiche do lançamento na passada em situações descontextualizadas, passando depois para a aplicação do cinco contra cinco tudo a monte sem que o professor faça mais do que gerir as regras básicas do jogo e sem saber muito bem quando, por onde e porquê intervir. E em turmas que podem ir a 28, às vezes só num campo a tentação de cair nesta solução é fácil. E isto repete-se ano após ano, e os eternos aprendizes às vezes até regridem do 7º para o nono. Porque é que isto acontece?”
5.Se é isto que acontece, e acontecerá certamente em muitas escolas, não se vislumbrando qualquer perspectiva de ser alterado o quadro em que se desenvolve a EF [é verdade, o autismo político na área desportiva tem desconsiderado os “velhinhos” autores de referência], então há que redefinir finalidades, objectivos, conteúdos e estratégias de intervenção. O pior que poderia acontecer à “nossa” área disciplinar seria, a meu ver, tornar-se prescindível ao sistema educativo e, obviamente, ao aluno.
Henrique
O ponto 2 do teu último comentário foi esclarecedor.
Quanto ao ponto 1, vou transformá-lo numa nova entrada.
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