A questão é muito complexa.
Afastar-me-ei da análise dos benefícios para o sistema de desenvolvimento desportivo que decorrem da promoção de um determinado tipo de prática no desporto escolar. Seria necessário mapear as relações entre a instituição escolar e dos clubes desportivos e observar os discursos que emergem de um e outro subsistema.
Creio que a questão procura o praticante. Centra-se no sujeito da prática. E a complexidade da questão resulta do facto da orientação da prática dos indivíduos não ter um, mas vários referenciais. É neste sentido que um olhar sobre os benefícios da prática do desporto escolar tenha de contemplar o sujeito praticante na sua pessoalidade, as exigências específicas da modalidade desportiva [padrões de desempenho, existência ou não de um sistema de competição, etc.] e o envolvimento que situa essa prática. Estou tentado a responder que os benefícios da prática do desporto escolar dependem do sentido que o praticante confere à sua prática. Embora exista um défice de compreensão no que respeita ao conceito de desporto plural despontam sinais que ameaçam romper com uma certa tradição (caracterizada por uma pretensa ligação dos professores às práticas de alto rendimento fazendo transportar para a escola um conjunto de crenças associadas a esse nível de prática). Refiro-me concretamente à proliferação de actividades multivariadas e ao reforço da actividade interna nas escolas.
Mesmo sob a alçada de um modelo de prática exclusiva – piramidal - que privilegia a competição, o rendimento, a competência, a comprovação e a auto-avaliação, a prática do desporto escolar admite outras razões que dão lhe sentido: a procura da tensão, do risco, da aventura, da estética, da expressão motora, da espiritualidade, da ritmicidade, do convívio, da comunicação, das experiências corporais, da condição física, da saúde, do bem-estar, das sensações motoras, da vivências da natureza e das experiências motoras.
Mas, afinal o que é se pode esperar de um desporto escolar exclusivo?
Que cumpra com a sua função de formação desportiva de base. Que alargue a base da pirâmide para que exista uma melhoria na qualidade da prática no topo. Reconheçamos a iniquidade da tarefa!
Miguel Pinto
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3 comentários:
Apesar de no discurso pedagógico ser relativamente pacífico admitir que o desporto infantil deve se mais sincrético, menos especializado e menos selectivo, podemos afirmar que o défice de desporto plural existe já no desporto infantil?
Uma certa tradição erigida na ideia da piramide desportiva entra em choque com a ideia de desporto plural. O que fazer da pirâmide? Isto é, que papel tem o desporto infantil na formação da elite desportiva?
Amândio Graça
A proliferação das “escolas de formação” ou “escolinhas” e o seu funcionamento talhado a só modalidade desportiva legitimam a unilateralidade da oferta do modelo de prática piramidal. Mesmo dentro de um clube eclético a balcanização entre modalidades coarcta a permeabilidade. Isto é, a falta de coordenação entre as secções dentro do clube, favorece o desperdício de meios e diminui as possibilidades de experimentação.
O que fazer da pirâmide? Aguardar que os jovens a partir dos 12/13 anos (com a ajuda das suas famílias) decidam encaminhar-se pelo alto rendimento.
O desporto infantil deve ter como referência um modelo de prática inclusivo que não renuncia (por definição) qualquer nível de prática.
GOSTO DO TEXTO YA??
FIKEM BEM
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