Amigo Amândio, é com prazer que participo no teu trabalho. Desde já peço desculpa pela demora pois sei que tens alguma urgência mas o tempo é curto e estamos, provavelmente todos, na pior fase do ano no que diz respeito a trabalho. Vou por isso tentar contribuir com a minha opinião, não da forma reflectida como o tema e o teu trabalho merece mas mais ao correr da pena ou seja do teclado. Já tive oportunidade de ler outros contributos mas vou pedir dispensa de neste momento fazer qualquer comentário.
Se bem entendi pretendes que dê a minha opinião sobre o dilema “resultado/prestação verso participação de todos” tendo em atenção a análise que faço aos resultados dos valores médios dos quatro países em causa.
Relativamente ao assunto tenho a dizer que os resultados estão de acordo com aquilo que eu penso ser o objectivo do DE. O tempo que me liga ao DE é como sabes longo mas durante muitos anos a actividade desportiva que promovi não tinha competição (actividades de ar livre) mas hoje tem um quadro competitivo. Por isso durante muito tempo não tive que me preocupar com esse dilema, ou seja, todos participavam e como já percebeste ser esse lado da questão que mais me atrai, fácil será descobrir que se calhar não foi inocente a escolha deste tipo de actividade.
Considero, no entanto, que o resultado é muito importante na formação do aluno/atleta mas fundamental nestas idades é valorizar a participação diversificando as funções, as situações e ou as modalidades, valorizar o prazer da prática pela prática. Há lugar para todos nesta fase, o prazer do resultado vem posteriormente.
Mário Pereira
segunda-feira, maio 30, 2005
quinta-feira, maio 26, 2005
Participação conjunta de rapazes e raparigas na competição: Em que medida é desejável? Em que medida é viável?
Antes de mais gostaria de referir que a minha experiência no âmbito do desporto infantil/ desporto escolar no escalão infantil é reduzida. Tenho alguma (pouca) experiência no Desporto Escolar, e dentro deste a minha actividade é desenvolvida ao nível da Actividade Interna onde, e embora se realizem torneios, é privilegiado o carácter recreativo/lúdico e de formação. Ao nível do Clube não tenho qualquer experiência com este escalão etário.
Assim sendo, a minha opinião baseia-se naquilo que ouço, sinto e observo.
Em relação ao desporto escolar no escalão infantil, penso que a participação conjunta de rapazes e raparigas na competição é desejável e viável desde que garantidas/asseguradas algumas condições. Deverá ser assegurado, por exemplo, que todos os alunos participem nas competições, que sejam respeitados os seus desempenhos e que de forma alguma estes sejam "retirados" das competições se não obtiverem bons resultados, ..., ou seja, que fundamentalmente não seja dada excessiva ênfase à competição.
É importante que não se confundam as coisas - não estamos a tratar de desporto de competição e alto rendimento.
Penso que deveremos estar atentos a uma outra situação.
À medida que a evolução ocorre, a nível técnico e táctico, ou que a idade aumenta, poderão tornar-se mais desiguais e acentuados os níveis de desempenho pelo que se não forem tidas em conta algumas preocupações de intervenção junto dos jovens que orientamos esta participação conjunta pode tornar-se cada vez menos motivante. Associados a este aspecto, e se for dada excessiva ênfase à competição, poderão surgir conflitos de interesses, a falta de prazer, a percepção de incompetência, sentimentos negativos de auto-estima ... e o consequente abandono da prática desportiva. Não é isto que queremos!
Se se pretende que o Desporto Escolar tenha como objectivo proporcionar a todos os alunos, dentro da Escola, actividades desportivas de carácter recreativo/lúdico, de formação e/ou de orientação desportiva, que promovam a formação integral do jovem, a saúde e o bem-estar, um modelo que privilegie excessivamente a competição e o rendimento, põe em causa os seus objectivos.
A competição é importante e altamente motivante para os jovens (e não só). No entanto, penso que esta deve ser gerida "com conta, peso e medida" de forma a respeitar as características, necessidades e interesses dos jovens. Se queremos fomentar o gosto pela prática desportiva este aspecto deverá requerer uma enorme atenção, cuidado e sensibilidade por parte de quem orienta a actividade e por parte de quem toma decisões sobre o nível de importância que deve ser atribuído à competição para este escalão.
Já agora, só mais uma "coisita"...
Embora saiba que me vou afastar um pouco da questão que me foi colocada, e se me for permitido, gostaria de saber o que os outros colegas pensam sobre a participação das raparigas ao nível do desporto escolar no escalão infantil. Sei que em determinadas modalidades a adesão das raparigas é grande. Sei também que existem várias nuances, vários condicionalismos... No meu caso, e isto em tom de desabafo, a participação das raparigas é pouco significativa, quase inexistente. São poucas as raparigas que procuram e frequentam a actividade à qual estou ligada - Ténis de Mesa, e as que surgem são mais uma excepção do que a regra. Ou porque a família não valoriza e incentiva a participação das raparigas nesta actividade, ou porque esta actividade é considerada não "muito própria" para as meninas, ou, ainda, porque são elas próprias - as raparigas, que tem outros interesses e motivações.
Os rapazes, pelo contrário, frequentam-no de uma forma assídua e regular, mostram gosto e gozo.
Será que tenho aqui um problema cultural (que não é inédito) por resolver?
O que se passa exactamente com cada um de vós?
Cláudia Malafaya
Assim sendo, a minha opinião baseia-se naquilo que ouço, sinto e observo.
Em relação ao desporto escolar no escalão infantil, penso que a participação conjunta de rapazes e raparigas na competição é desejável e viável desde que garantidas/asseguradas algumas condições. Deverá ser assegurado, por exemplo, que todos os alunos participem nas competições, que sejam respeitados os seus desempenhos e que de forma alguma estes sejam "retirados" das competições se não obtiverem bons resultados, ..., ou seja, que fundamentalmente não seja dada excessiva ênfase à competição.
É importante que não se confundam as coisas - não estamos a tratar de desporto de competição e alto rendimento.
Penso que deveremos estar atentos a uma outra situação.
À medida que a evolução ocorre, a nível técnico e táctico, ou que a idade aumenta, poderão tornar-se mais desiguais e acentuados os níveis de desempenho pelo que se não forem tidas em conta algumas preocupações de intervenção junto dos jovens que orientamos esta participação conjunta pode tornar-se cada vez menos motivante. Associados a este aspecto, e se for dada excessiva ênfase à competição, poderão surgir conflitos de interesses, a falta de prazer, a percepção de incompetência, sentimentos negativos de auto-estima ... e o consequente abandono da prática desportiva. Não é isto que queremos!
Se se pretende que o Desporto Escolar tenha como objectivo proporcionar a todos os alunos, dentro da Escola, actividades desportivas de carácter recreativo/lúdico, de formação e/ou de orientação desportiva, que promovam a formação integral do jovem, a saúde e o bem-estar, um modelo que privilegie excessivamente a competição e o rendimento, põe em causa os seus objectivos.
A competição é importante e altamente motivante para os jovens (e não só). No entanto, penso que esta deve ser gerida "com conta, peso e medida" de forma a respeitar as características, necessidades e interesses dos jovens. Se queremos fomentar o gosto pela prática desportiva este aspecto deverá requerer uma enorme atenção, cuidado e sensibilidade por parte de quem orienta a actividade e por parte de quem toma decisões sobre o nível de importância que deve ser atribuído à competição para este escalão.
Já agora, só mais uma "coisita"...
Embora saiba que me vou afastar um pouco da questão que me foi colocada, e se me for permitido, gostaria de saber o que os outros colegas pensam sobre a participação das raparigas ao nível do desporto escolar no escalão infantil. Sei que em determinadas modalidades a adesão das raparigas é grande. Sei também que existem várias nuances, vários condicionalismos... No meu caso, e isto em tom de desabafo, a participação das raparigas é pouco significativa, quase inexistente. São poucas as raparigas que procuram e frequentam a actividade à qual estou ligada - Ténis de Mesa, e as que surgem são mais uma excepção do que a regra. Ou porque a família não valoriza e incentiva a participação das raparigas nesta actividade, ou porque esta actividade é considerada não "muito própria" para as meninas, ou, ainda, porque são elas próprias - as raparigas, que tem outros interesses e motivações.
Os rapazes, pelo contrário, frequentam-no de uma forma assídua e regular, mostram gosto e gozo.
Será que tenho aqui um problema cultural (que não é inédito) por resolver?
O que se passa exactamente com cada um de vós?
Cláudia Malafaya
terça-feira, maio 24, 2005
Que benefícios estão a ser mais privilegiados como consequência da prática do desporto escolar /desporto infantil?
A questão é muito complexa.
Afastar-me-ei da análise dos benefícios para o sistema de desenvolvimento desportivo que decorrem da promoção de um determinado tipo de prática no desporto escolar. Seria necessário mapear as relações entre a instituição escolar e dos clubes desportivos e observar os discursos que emergem de um e outro subsistema.
Creio que a questão procura o praticante. Centra-se no sujeito da prática. E a complexidade da questão resulta do facto da orientação da prática dos indivíduos não ter um, mas vários referenciais. É neste sentido que um olhar sobre os benefícios da prática do desporto escolar tenha de contemplar o sujeito praticante na sua pessoalidade, as exigências específicas da modalidade desportiva [padrões de desempenho, existência ou não de um sistema de competição, etc.] e o envolvimento que situa essa prática. Estou tentado a responder que os benefícios da prática do desporto escolar dependem do sentido que o praticante confere à sua prática. Embora exista um défice de compreensão no que respeita ao conceito de desporto plural despontam sinais que ameaçam romper com uma certa tradição (caracterizada por uma pretensa ligação dos professores às práticas de alto rendimento fazendo transportar para a escola um conjunto de crenças associadas a esse nível de prática). Refiro-me concretamente à proliferação de actividades multivariadas e ao reforço da actividade interna nas escolas.
Mesmo sob a alçada de um modelo de prática exclusiva – piramidal - que privilegia a competição, o rendimento, a competência, a comprovação e a auto-avaliação, a prática do desporto escolar admite outras razões que dão lhe sentido: a procura da tensão, do risco, da aventura, da estética, da expressão motora, da espiritualidade, da ritmicidade, do convívio, da comunicação, das experiências corporais, da condição física, da saúde, do bem-estar, das sensações motoras, da vivências da natureza e das experiências motoras.
Mas, afinal o que é se pode esperar de um desporto escolar exclusivo?
Que cumpra com a sua função de formação desportiva de base. Que alargue a base da pirâmide para que exista uma melhoria na qualidade da prática no topo. Reconheçamos a iniquidade da tarefa!
Miguel Pinto
Afastar-me-ei da análise dos benefícios para o sistema de desenvolvimento desportivo que decorrem da promoção de um determinado tipo de prática no desporto escolar. Seria necessário mapear as relações entre a instituição escolar e dos clubes desportivos e observar os discursos que emergem de um e outro subsistema.
Creio que a questão procura o praticante. Centra-se no sujeito da prática. E a complexidade da questão resulta do facto da orientação da prática dos indivíduos não ter um, mas vários referenciais. É neste sentido que um olhar sobre os benefícios da prática do desporto escolar tenha de contemplar o sujeito praticante na sua pessoalidade, as exigências específicas da modalidade desportiva [padrões de desempenho, existência ou não de um sistema de competição, etc.] e o envolvimento que situa essa prática. Estou tentado a responder que os benefícios da prática do desporto escolar dependem do sentido que o praticante confere à sua prática. Embora exista um défice de compreensão no que respeita ao conceito de desporto plural despontam sinais que ameaçam romper com uma certa tradição (caracterizada por uma pretensa ligação dos professores às práticas de alto rendimento fazendo transportar para a escola um conjunto de crenças associadas a esse nível de prática). Refiro-me concretamente à proliferação de actividades multivariadas e ao reforço da actividade interna nas escolas.
Mesmo sob a alçada de um modelo de prática exclusiva – piramidal - que privilegia a competição, o rendimento, a competência, a comprovação e a auto-avaliação, a prática do desporto escolar admite outras razões que dão lhe sentido: a procura da tensão, do risco, da aventura, da estética, da expressão motora, da espiritualidade, da ritmicidade, do convívio, da comunicação, das experiências corporais, da condição física, da saúde, do bem-estar, das sensações motoras, da vivências da natureza e das experiências motoras.
Mas, afinal o que é se pode esperar de um desporto escolar exclusivo?
Que cumpra com a sua função de formação desportiva de base. Que alargue a base da pirâmide para que exista uma melhoria na qualidade da prática no topo. Reconheçamos a iniquidade da tarefa!
Miguel Pinto
Relativamente aos conteúdos e organização da prática, em que medida se está a treinar bem?
Na minha opinião está-se a treinar bem na medida em que cada vez mais se sente vincada a noção de que o desporto infantil é uma etapa de um longo e complexo processo de formação de um indivíduo/atleta. Assim sendo, são inúmeras as variáveis e, nomeadamente, a interrelação dessas variáveis, que os treinadores consideram e ponderam aquando da distribuição de conteúdos e organização da prática.
O aspecto lúdico acaba por estar sempre presente, em todas as partes do treino/aula, independentemente do objectivo específico exigido. Tudo pode ser um jogo, desde que se consiga "jogar" com os critérios de sucesso de cada exercício consoante aquilo que se pretende (pontuação para a eficiência e para a eficácia de execução, para a prestação técnico-táctica individual, para a prestação técnico-táctica colectiva, para a prestação física, etc.).
O próprio jogo (condicionado ou não) tem sido um conteúdo priveligiado pela variedade de estímulos que oferece.
Pelo estado de desenvolvimento da cr/jovem também se tem verificado uma cada vez maior e mais fundamentada preocupação ao nível do domínio físico (preocupações ao nível da postura, reforço, relaxamento, conhecimento do próprio corpo, etc.) e são cada vez mais os exercícios com estes objectivos, bem como os circuitos de coordenação presentes no desporto infantil. Dada a plasticidade do sistema nervoso, para além da noção de conduzir a prática do mais simples para o mais complexo, do menos para o mais e do menos para o mais exigente, a variedade de estimulação (exercícios distintos e com objectivos distintos, critérios de sucesso e de execução distintos, variantes de espaço, tempo, posturas, reacções, etc) também tem sido tida em conta.
A noção de que os níveis de prestação dependem da interrelação de inúmeros domínios que num momento contribuem com um determinado peso e com uma determinada prontidão do indivíduo obriga o treinador, cada vez mais, a olhar e sentir a individualidade da cr/jovem no sentido de saber o quê e como conjugar os conteúdos e organizá-los de modo a conseguir uma progressão cada vez mais sólida, mas sempre aberta. Por isso, tem visto cada vez menos treinadores a preocuparem-se com o tempo dedicado à técnica, à táctica e ao físico. Vejo mais treinadores preocupados na forma de como poderão trabalhar esses domínios de modo separado ou em conjunto de modo a potenciar esses domínios para prestações futuras, sem nunca retirar prazer e sucesso à cr/jovem.
A necessidade de cada vez mais e melhor a criança compreender aquilo que está a fazer, bem como os respectivos objectivos, de modo a que se consigam elevados níveis de auto-estima e auto-confiança, também incentiva à responsabilização daquela no processo. Os critérios impostos para cada exercício têm contemplado isso mesmo. Além disso, existem outras formas (ex:
modelo de educação desportiva) em que a responsabilização individual e colectiva aparece vincada sob vários parâmetros de intervenção desportiva (arbitragem, gestão, etc.) e na qual a cr/jovem se poderá sentir mais confiante.
Na minha opinião a motivação intrínseca é o motor para tudo, seja cr/jovem ou adulto. Como tal, descobrir esse "botão" a partir do desenvolvimento de um autoconhecimento e conhecimento dos outros, é a chave para o sucesso na condução do desporto infantil, juvenil ou adulto. As bases ao nível da escolha de conteúdos e de organização estão mais ou menos definidas (pelos estudos científicos elaborados), importa é saber "temperar" esses conteúdos e organização de modo a manter a cr/jovem motivado para aprender, participar e continuar, cada vez mais e melhor (consigo próprio e com os outros).
Para se treinar melhor é, antes de mais, necessário conhecermo-nos melhor e conhecermos melhor os outros.
Ana Rita Gomes
O aspecto lúdico acaba por estar sempre presente, em todas as partes do treino/aula, independentemente do objectivo específico exigido. Tudo pode ser um jogo, desde que se consiga "jogar" com os critérios de sucesso de cada exercício consoante aquilo que se pretende (pontuação para a eficiência e para a eficácia de execução, para a prestação técnico-táctica individual, para a prestação técnico-táctica colectiva, para a prestação física, etc.).
O próprio jogo (condicionado ou não) tem sido um conteúdo priveligiado pela variedade de estímulos que oferece.
Pelo estado de desenvolvimento da cr/jovem também se tem verificado uma cada vez maior e mais fundamentada preocupação ao nível do domínio físico (preocupações ao nível da postura, reforço, relaxamento, conhecimento do próprio corpo, etc.) e são cada vez mais os exercícios com estes objectivos, bem como os circuitos de coordenação presentes no desporto infantil. Dada a plasticidade do sistema nervoso, para além da noção de conduzir a prática do mais simples para o mais complexo, do menos para o mais e do menos para o mais exigente, a variedade de estimulação (exercícios distintos e com objectivos distintos, critérios de sucesso e de execução distintos, variantes de espaço, tempo, posturas, reacções, etc) também tem sido tida em conta.
A noção de que os níveis de prestação dependem da interrelação de inúmeros domínios que num momento contribuem com um determinado peso e com uma determinada prontidão do indivíduo obriga o treinador, cada vez mais, a olhar e sentir a individualidade da cr/jovem no sentido de saber o quê e como conjugar os conteúdos e organizá-los de modo a conseguir uma progressão cada vez mais sólida, mas sempre aberta. Por isso, tem visto cada vez menos treinadores a preocuparem-se com o tempo dedicado à técnica, à táctica e ao físico. Vejo mais treinadores preocupados na forma de como poderão trabalhar esses domínios de modo separado ou em conjunto de modo a potenciar esses domínios para prestações futuras, sem nunca retirar prazer e sucesso à cr/jovem.
A necessidade de cada vez mais e melhor a criança compreender aquilo que está a fazer, bem como os respectivos objectivos, de modo a que se consigam elevados níveis de auto-estima e auto-confiança, também incentiva à responsabilização daquela no processo. Os critérios impostos para cada exercício têm contemplado isso mesmo. Além disso, existem outras formas (ex:
modelo de educação desportiva) em que a responsabilização individual e colectiva aparece vincada sob vários parâmetros de intervenção desportiva (arbitragem, gestão, etc.) e na qual a cr/jovem se poderá sentir mais confiante.
Na minha opinião a motivação intrínseca é o motor para tudo, seja cr/jovem ou adulto. Como tal, descobrir esse "botão" a partir do desenvolvimento de um autoconhecimento e conhecimento dos outros, é a chave para o sucesso na condução do desporto infantil, juvenil ou adulto. As bases ao nível da escolha de conteúdos e de organização estão mais ou menos definidas (pelos estudos científicos elaborados), importa é saber "temperar" esses conteúdos e organização de modo a manter a cr/jovem motivado para aprender, participar e continuar, cada vez mais e melhor (consigo próprio e com os outros).
Para se treinar melhor é, antes de mais, necessário conhecermo-nos melhor e conhecermos melhor os outros.
Ana Rita Gomes
Como tratar a questão da especialização numa modalidade desportiva e especialização funcional (posto ou prova específica) nestas idades?
Em primeiro lugar algumas clarificações:
-além da EF sempre estive ligado à formação em Basquetebol, desde o Minibasquetebol aos Cadetes, tanto no Desporto Escolar como no Federado. É pois nesse âmbito que me pronuncio, reconhecendo que noutras áreas desportos existem especificidades diferentes. Sou um autodidacta interessado pelas questões práticas e teóricas do ensino dos desportos colectivos.
1- Clarificação de conceitos. Entendo desporto infantil no sentido de desporto praticado em idades pré-púberes e desporto juvenil o praticado em jovens que passaram a puberdade.
-Falo de práticas desportivas para além da EF obrigatória e extensiva a todos os alunos. Os âmbitos dessas práticas podem ser o Desporto Escolar e posteriormente o Desporto Federado devendo ambos, nestas idades, cumprirem os mesmos princípios.
-Concordo com os autores que propõem uma fase multidesportiva antes de se entrar em qualquer especialização num desporto colectivo concreto, como o basquetebol. Dos oito aos 9/10 anos penso estar o momento dessa fase de formação multidesportiva. Não se aprenderia um desporto mas sim vários desportos de uma forma transversal, desenvolvendo os seus princípios tácticos mais básicos e gerais e desenvolvendo a motricidade de base que esses princípios tácticos e os jogos vão solicitando.
-Antes dessa fase Multidesportiva, penso que não se deveria falar de desporto mas de formação motora lúdica muito variada. (sistematizada entre os 6/7 anos).
-Precedendo a puberdade (10/11, 12 anos) penso ser o momento para passar à aprendizagem sistemática de um desporto colectivo (sem prejuízo da eventual prática complementar de outro desporto, o que se torna temporalmente difícil). É esta, na minha opinião, a fase de iniciação num desporto específico que deve estar basicamente cumprida antes da puberdade. Nesta fase, dentro de um desporto concreto, não deve haver especialização funcional por postos. Todos os alunos devem aprender: as regras fundamentais da modalidade; os valores desportivos, os hábitos de treino e de comportamento; os princípios tácticos básicos ofensivos e defensivos da modalidade (nas 3 situações básicas de atacante com bola, atacante sem bola e defesa) e as técnicas básicas necessárias ao desempenho nas situações de jogo.
-Após essa fase de iniciação em que se aproveita a fase pré-púbere surgem as grandes transformações da puberdade que criam dificuldades por um lado mas também abrem muitas potencialidades. Por um lado morfologicamente há as grandes transformações que sabemos. Daí decorre a necessidade de consolidar/aperfeiçoar/desenvolver os hábitos/técnicas motoras aprendidas anteriormente. Por outro lado a capacidade de autonomia, de responsabilidade e de pensamento abrem campos de desenvolvimento novos a explorar. (não esqueço obviamente as dificuldades, as inseguranças e os problemas que aparecem por essas alturas e que devem ser geridos com muito cuidado.)
É uma fase que eu consideraria de polivalência funcional dentro dos desportos. Dou o ex. do Basquetebol. Sabemos que os postos no ataque, pesem diferentes sistematizações, se distribuem por bases, extremos e postes. Eu penso que todos os jogadores devem passar, nos treinos e nos jogos, pela experiência de todas estas posições (através de dispositivos e formas de ataque que os permitam) de modo a perceberem as exigências e as competências de cada um destes postos. Esta forma de ver as coisas pode não dar os resultados imediatos melhores em termos de resultados dos jogos e campeonatos, mas penso ser muito melhor para a formação dos jogadores. Especializar unicamente um jogador a poste no escalão de cadetes só porque ele é o mais alto da equipa nesse momento pode estar a coartar-lhe hipóteses futuras como jogador. (Estamos no tempo dos bases grandes). Por outro lado os jogadores mais pequenos perceberão melhor as funções dos extremos e postes se passarem por lá temporariamente em treino e em jogos.
E acabaria por aqui.
Nota geral: Fazer aprender bem, com paciência, apoiando as crianças jovens, motivando-as, responsabilizando-as, aí estão algumas das chaves, como disse a Rita, da boa formação desportiva.
Uma outra grande “chave” a produzir colectivamente é a de um “currículo” (o caminho) desportivo colectivamente construído em função da caracterização dos públicos com que trabalhamos e que responda às seguintes questões:
Objectivos; fases; conteúdos; estratégias de ensino, situações de ensino e avaliações… e que sobre cada uma das opções as fundamente racionalmente.
P.S. Em Portugal nos desportos colectivos o que penso acontecer é que ou as crianças ou são muito cedo especializadas na prática de um desporto e depois dentro dele num posto específico, ou começam muito tarde perdendo fases muito importantes nessa formação.
Henrique Santos
-além da EF sempre estive ligado à formação em Basquetebol, desde o Minibasquetebol aos Cadetes, tanto no Desporto Escolar como no Federado. É pois nesse âmbito que me pronuncio, reconhecendo que noutras áreas desportos existem especificidades diferentes. Sou um autodidacta interessado pelas questões práticas e teóricas do ensino dos desportos colectivos.
1- Clarificação de conceitos. Entendo desporto infantil no sentido de desporto praticado em idades pré-púberes e desporto juvenil o praticado em jovens que passaram a puberdade.
-Falo de práticas desportivas para além da EF obrigatória e extensiva a todos os alunos. Os âmbitos dessas práticas podem ser o Desporto Escolar e posteriormente o Desporto Federado devendo ambos, nestas idades, cumprirem os mesmos princípios.
-Concordo com os autores que propõem uma fase multidesportiva antes de se entrar em qualquer especialização num desporto colectivo concreto, como o basquetebol. Dos oito aos 9/10 anos penso estar o momento dessa fase de formação multidesportiva. Não se aprenderia um desporto mas sim vários desportos de uma forma transversal, desenvolvendo os seus princípios tácticos mais básicos e gerais e desenvolvendo a motricidade de base que esses princípios tácticos e os jogos vão solicitando.
-Antes dessa fase Multidesportiva, penso que não se deveria falar de desporto mas de formação motora lúdica muito variada. (sistematizada entre os 6/7 anos).
-Precedendo a puberdade (10/11, 12 anos) penso ser o momento para passar à aprendizagem sistemática de um desporto colectivo (sem prejuízo da eventual prática complementar de outro desporto, o que se torna temporalmente difícil). É esta, na minha opinião, a fase de iniciação num desporto específico que deve estar basicamente cumprida antes da puberdade. Nesta fase, dentro de um desporto concreto, não deve haver especialização funcional por postos. Todos os alunos devem aprender: as regras fundamentais da modalidade; os valores desportivos, os hábitos de treino e de comportamento; os princípios tácticos básicos ofensivos e defensivos da modalidade (nas 3 situações básicas de atacante com bola, atacante sem bola e defesa) e as técnicas básicas necessárias ao desempenho nas situações de jogo.
-Após essa fase de iniciação em que se aproveita a fase pré-púbere surgem as grandes transformações da puberdade que criam dificuldades por um lado mas também abrem muitas potencialidades. Por um lado morfologicamente há as grandes transformações que sabemos. Daí decorre a necessidade de consolidar/aperfeiçoar/desenvolver os hábitos/técnicas motoras aprendidas anteriormente. Por outro lado a capacidade de autonomia, de responsabilidade e de pensamento abrem campos de desenvolvimento novos a explorar. (não esqueço obviamente as dificuldades, as inseguranças e os problemas que aparecem por essas alturas e que devem ser geridos com muito cuidado.)
É uma fase que eu consideraria de polivalência funcional dentro dos desportos. Dou o ex. do Basquetebol. Sabemos que os postos no ataque, pesem diferentes sistematizações, se distribuem por bases, extremos e postes. Eu penso que todos os jogadores devem passar, nos treinos e nos jogos, pela experiência de todas estas posições (através de dispositivos e formas de ataque que os permitam) de modo a perceberem as exigências e as competências de cada um destes postos. Esta forma de ver as coisas pode não dar os resultados imediatos melhores em termos de resultados dos jogos e campeonatos, mas penso ser muito melhor para a formação dos jogadores. Especializar unicamente um jogador a poste no escalão de cadetes só porque ele é o mais alto da equipa nesse momento pode estar a coartar-lhe hipóteses futuras como jogador. (Estamos no tempo dos bases grandes). Por outro lado os jogadores mais pequenos perceberão melhor as funções dos extremos e postes se passarem por lá temporariamente em treino e em jogos.
E acabaria por aqui.
Nota geral: Fazer aprender bem, com paciência, apoiando as crianças jovens, motivando-as, responsabilizando-as, aí estão algumas das chaves, como disse a Rita, da boa formação desportiva.
Uma outra grande “chave” a produzir colectivamente é a de um “currículo” (o caminho) desportivo colectivamente construído em função da caracterização dos públicos com que trabalhamos e que responda às seguintes questões:
Objectivos; fases; conteúdos; estratégias de ensino, situações de ensino e avaliações… e que sobre cada uma das opções as fundamente racionalmente.
P.S. Em Portugal nos desportos colectivos o que penso acontecer é que ou as crianças ou são muito cedo especializadas na prática de um desporto e depois dentro dele num posto específico, ou começam muito tarde perdendo fases muito importantes nessa formação.
Henrique Santos
segunda-feira, maio 23, 2005
Grupo de discussão
Com o objectivo de aprofundar um estudo de caracterização do desporto escolar/infantil envolvendo praticantes e professores/treinadores de Espanha, Portugal, França e Itália, gostaria de obter a vossa colaboração na participação de um grupo de discussão sobre desporto infantil/ desporto escolar no escalão infantil. A ideia básica é cada um de vocês apresentar de uma forma muito sucinta as vossa ideias sobre uma das questões relacionadas com a orientação da prática desportiva nestas idades e depois comentarem as perspectivas apresentadas pelos colegas. Dada a urgência na recolha de dados, atrevo-me já a atribuir os vossos nomes pelas questões. Porém se por qualquer razão não quiserem ou não puderem participar agradecia que me informassem tão prontamente quanto possível para proceder à respectiva substituição. Desde já grato pela vossa atenção.
Questões de discussão:
1- Como se resolve o dilema: dar primazia ao resultado na competição ou dar primazia à participação de todos na competição? (Mário Pereira)
2- Participação conjunta de rapazes e raparigas na competição: Em que medida é desejável? Em que medida é viável? (Cláudia Malafaya)
3- Como tratar a questão da especialização numa modalidade desportiva e especialização funcional (posto ou prova específica) nestas idades? (Henrique Santos)
4- Que benefícios estão a ser mais privilegiados como consequência da prática do desporto escolar /desporto infantil? (Miguel Pinto)
5- Que aspectos há a valorizar e a criticar na intervenção do professor /treinador de desporto escolar / desporto infantil nos treinos e nas competições? (Susana Póvoas)
6- Relativamente aos conteúdos e organização da prática, em que medida se está a treinar bem? (Ana Rita Gomes)
Amândio Graça
Questões de discussão:
1- Como se resolve o dilema: dar primazia ao resultado na competição ou dar primazia à participação de todos na competição? (Mário Pereira)
2- Participação conjunta de rapazes e raparigas na competição: Em que medida é desejável? Em que medida é viável? (Cláudia Malafaya)
3- Como tratar a questão da especialização numa modalidade desportiva e especialização funcional (posto ou prova específica) nestas idades? (Henrique Santos)
4- Que benefícios estão a ser mais privilegiados como consequência da prática do desporto escolar /desporto infantil? (Miguel Pinto)
5- Que aspectos há a valorizar e a criticar na intervenção do professor /treinador de desporto escolar / desporto infantil nos treinos e nas competições? (Susana Póvoas)
6- Relativamente aos conteúdos e organização da prática, em que medida se está a treinar bem? (Ana Rita Gomes)
Amândio Graça
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