• Encarar as crianças e os jovens como adultos mais pequenos e fazer com eles o mesmo que se faz com atletas seniores;
• Não ensinar correctamente as técnicas e privilegiar os factores específicos da condição física, sem dar o devido relevo à condição física geral;
• Procurar desenvolver os pontos fortes e desprezar os aspectos que necessitam de desenvolvimento ou de aperfeiçoamento;
• Criticar mais do que elogiar;
• Desprezar a componente lúdica da prática desportiva em prol da preparação individual e individualista;
• Usar apenas a recompensa externa (medalhas, taças, dinheiro) como motivação;
• Desprezar os jovens que não ganham, elogiando apenas aqueles que obtêm vitórias;
• Transformar o desporto na única preocupação da vida do jovem;
• Desenvolver no jovem a ideia de “ganhar a qualquer preço” como garante de uma boa atitude;
• Definir objectivos para o treino de jovens esquecendo os jovens e as suas necessidades e interesses.
Quem proceder deste modo, está a transformar o desporto num instrumento perverso, que pode mesmo chegar a “fazer mal” aos jovens que a ele aderem.
sábado, maio 20, 2006
Assim não vale!
terça-feira, julho 05, 2005
Recentrar a EF na escola.
“No basquetebol, (ou no futebol, etc,) é o passe, o drible, o fetiche do lançamento na passada em situações descontextualizadas, passando depois para a aplicação do cinco contra cinco tudo a monte sem que o professor faça mais do que gerir as regras básicas do jogo e sem saber muito bem quando, por onde e porquê intervir. E em turmas que podem ir a 28, às vezes só num campo a tentação de cair nesta solução é fácil. E isto repete-se ano após ano, e os eternos aprendizes às vezes até regridem do 7º para o nono. Porque é que isto acontece?”
Corroboro este comentário do Henrique e insisto na sua questão: Por que é que isto acontece?
E se é isto que acontece, e acontecerá certamente em muitas escolas, não se vislumbrando qualquer perspectiva de ser alterado o quadro em que se desenvolve a EF [é verdade, o autismo político na área desportiva tem desconsiderado os “velhinhos” autores de referência], então há que redefinir finalidades, objectivos, conteúdos e estratégias de intervenção.
O pior que poderia acontecer à “nossa” área disciplinar seria, a meu ver, tornar-se prescindível no sistema educativo.
Corroboro este comentário do Henrique e insisto na sua questão: Por que é que isto acontece?
E se é isto que acontece, e acontecerá certamente em muitas escolas, não se vislumbrando qualquer perspectiva de ser alterado o quadro em que se desenvolve a EF [é verdade, o autismo político na área desportiva tem desconsiderado os “velhinhos” autores de referência], então há que redefinir finalidades, objectivos, conteúdos e estratégias de intervenção.
O pior que poderia acontecer à “nossa” área disciplinar seria, a meu ver, tornar-se prescindível no sistema educativo.
segunda-feira, junho 27, 2005
O desporto e a resiliência escolar
“Resiliência escolar é a capacidade do indivíduo ficar na Escola, apesar dum conjunto de características dos subsistemas (o próprio indivíduo; a família; a escola; o meio envolvente) que motivariam para o abandono escolar. Explica-se também pela interacção positiva que se estabelece entre os mesmos subsistemas, muitas vezes por intervenção externa de natureza preventiva”1 . Sendo certo que o problema do abandono escolar é multifacetado, as iniciativas profilácticas serão sempre mais eficazes quanto maiores forem as sinergias desencadeadas.
Reconhecemos a existência de inúmeros constrangimentos que limitam a acção das escolas nesta matéria: Um espartilho legal excessivamente rígido, reduzidas expectativas dos alunos e famílias, docentes desencorajados pela intensificação do trabalho, órgãos de gestão pressionados pela escassez do tempo relativamente ao ritmo das mudanças. Determinados pela vontade de colaborar, intervir e querer alterar as circunstâncias, o núcleo do desporto escolar avança com uma proposta que visa integrar os alunos na escola e apoiar o seu desenvolvimento integral. O desporto escolar apresenta-se como um instrumento para cumprir este grande desiderato que é a resiliência escolar.
O desporto escolar é uma actividade livre. Os alunos acedem ao desporto escolar porque vêem nele algo de positivo. Mas nem sempre a oferta desportiva na escola encontra eco na mobilização dos alunos e nessas circunstâncias, caberá à escola (o desporto escolar terá de ser um projecto de escola) rever e reformular as suas propostas. Quando a adesão dos alunos é elevada não restará outra alternativa. Há que procurar facultar as condições físicas e humanas para responder às necessidades de prática dos alunos e não ceder aos obstáculos de natureza administrativa.
Sem propostas inovadoras e medidas concretas, o risco de ficarmos enlaçados numa retórica iníqua é elevado. O abandono escolar precoce não espera pelas vagarosas decisões governamentais. Caberá à escola encontrar a(s) forma(s) mais apropriada(s) para resolver os problemas escolares dos alunos escolhendo o acto educativo como a oportunidade da escola intervir no processo de formação do aluno. Sempre que o aluno se distancia das actividades lectivas, ou extra-lectivas, inviabiliza o acto educativo. E é nesta medida que nos damos conta do potencial das actividades extra-lectivas, nomeadamente, das iniciativas do desporto escolar. As actividades intra-muros têm merecido uma participação alargada dos alunos constatando-se, também, a adesão alargada dos alunos com maiores dificuldades de integração na escola. E que casos são estes?
A detecção dos casos mais graves de integração, comportamentos desviantes e absentismo escolar pode ser realizada, numa primeira fase, pelos professores de Educação Física que leccionam as turmas do 3º ciclo e, numa fase posterior, pelo presidente do Conselho Executivo após analisar, juntamente com a sua equipa de trabalho, os relatórios dos directores de turma e dos serviços de orientação escolar. Obviamente que esta dinâmica de trabalho não serve de padrão porque depende de uma teia de lideranças muito próprias de cada escola. Deixemos que cada escola encontre a melhor forma de detectar os alunos em risco de abandono. E que alunos são estes?
São alunos cujas regras de comportamento se afastam do modelo de formato único, convencional, desejado pela instituição escolar. São alunos que precisam de aprender como se respeita o outro. São alunos que precisam de ser apreciados, estimados, ajudados. São alunos que, normalmente, são afastados das organizações desportivas porque atraem problemas, desacatos e desordem. São alunos que nem sempre aguardam pela segunda oportunidade.
É neste contexto que emerge a seguinte questão:
Como quantificar e qualificar a prática desportiva? E para quê?
1 Ministério da Educação/Ministério da Segurança Social e do Trabalho – Plano Nacional de Prevenção do Abandono Escolar. Documento síntese, p. 5, Março de 2004.
Reconhecemos a existência de inúmeros constrangimentos que limitam a acção das escolas nesta matéria: Um espartilho legal excessivamente rígido, reduzidas expectativas dos alunos e famílias, docentes desencorajados pela intensificação do trabalho, órgãos de gestão pressionados pela escassez do tempo relativamente ao ritmo das mudanças. Determinados pela vontade de colaborar, intervir e querer alterar as circunstâncias, o núcleo do desporto escolar avança com uma proposta que visa integrar os alunos na escola e apoiar o seu desenvolvimento integral. O desporto escolar apresenta-se como um instrumento para cumprir este grande desiderato que é a resiliência escolar.
O desporto escolar é uma actividade livre. Os alunos acedem ao desporto escolar porque vêem nele algo de positivo. Mas nem sempre a oferta desportiva na escola encontra eco na mobilização dos alunos e nessas circunstâncias, caberá à escola (o desporto escolar terá de ser um projecto de escola) rever e reformular as suas propostas. Quando a adesão dos alunos é elevada não restará outra alternativa. Há que procurar facultar as condições físicas e humanas para responder às necessidades de prática dos alunos e não ceder aos obstáculos de natureza administrativa.
Sem propostas inovadoras e medidas concretas, o risco de ficarmos enlaçados numa retórica iníqua é elevado. O abandono escolar precoce não espera pelas vagarosas decisões governamentais. Caberá à escola encontrar a(s) forma(s) mais apropriada(s) para resolver os problemas escolares dos alunos escolhendo o acto educativo como a oportunidade da escola intervir no processo de formação do aluno. Sempre que o aluno se distancia das actividades lectivas, ou extra-lectivas, inviabiliza o acto educativo. E é nesta medida que nos damos conta do potencial das actividades extra-lectivas, nomeadamente, das iniciativas do desporto escolar. As actividades intra-muros têm merecido uma participação alargada dos alunos constatando-se, também, a adesão alargada dos alunos com maiores dificuldades de integração na escola. E que casos são estes?
A detecção dos casos mais graves de integração, comportamentos desviantes e absentismo escolar pode ser realizada, numa primeira fase, pelos professores de Educação Física que leccionam as turmas do 3º ciclo e, numa fase posterior, pelo presidente do Conselho Executivo após analisar, juntamente com a sua equipa de trabalho, os relatórios dos directores de turma e dos serviços de orientação escolar. Obviamente que esta dinâmica de trabalho não serve de padrão porque depende de uma teia de lideranças muito próprias de cada escola. Deixemos que cada escola encontre a melhor forma de detectar os alunos em risco de abandono. E que alunos são estes?
São alunos cujas regras de comportamento se afastam do modelo de formato único, convencional, desejado pela instituição escolar. São alunos que precisam de aprender como se respeita o outro. São alunos que precisam de ser apreciados, estimados, ajudados. São alunos que, normalmente, são afastados das organizações desportivas porque atraem problemas, desacatos e desordem. São alunos que nem sempre aguardam pela segunda oportunidade.
É neste contexto que emerge a seguinte questão:
Como quantificar e qualificar a prática desportiva? E para quê?
1 Ministério da Educação/Ministério da Segurança Social e do Trabalho – Plano Nacional de Prevenção do Abandono Escolar. Documento síntese, p. 5, Março de 2004.
sábado, junho 25, 2005
Desporto escolar no 1º ciclo…
Relativamente ao 1º ciclo e entre as medidas anunciadas pela Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues conta-se a seguinte:
“… será alargado o horário de funcionamento das escolas do 1.º ciclo até às 17.30, permitindo aos alunos beneficiar de actividades extracurriculares como o estudo acompanhado, o inglês ou o desporto escolar. Trata-se de tirar pleno partido dos recursos humanos e das infra-estruturas disponíveis na rede de escolas públicas, proporcionando melhores condições de integração dos alunos. Esta acção será implementada em colaboração com as autarquias, a quem compete a gestão não curricular das escolas do 1.º ciclo, em articulação com os pais. Na verdade, existem já autarquias em que as escolas do 1.º ciclo funcionam com horário alargado, proporcionando as referidas actividades extracurriculares. Esta boa prática deverá, portanto, ser generalizada.”
In http://www.sepleu.pt/index2.htm
Ao ler esta medida surgiram-me uma série de questões. Não conheço o que se passa na generalidade das escolas do 1º ciclo mas do pouco que conheço a Educação Física é praticamente inexistente.
Fará sentido implementar o Desporto Escolar quando as crianças não têm uma prática regular e sistemática de Educação Física?
Que actividades extracurriculares são, presentemente, proporcionadas pelas autarquias aos alunos do 1º ciclo?
Que recursos humanos existem nas autarquias do nosso país que garantam uma correcta e adequada intervenção, ao nível do Desporto Escolar, junto das crianças do 1º ciclo? São profissionais com formação a este nível?
Muitas outras questões poderiam ser colocadas…
Será que me podem ajudar a conhecer o que de facto se passa nas nossas escolas do 1º ciclo?
sexta-feira, junho 17, 2005
Educação Física
[[Partilho convosco esta carta aberta ao director da Página da Educação. Se pretenderem passear pelo jornal bastará carregar aqui.]
"Ao director de a Página
Caro Colega
Sou professor de Educação Física há cerca de 12 anos. Queria comentar um tema constantemente subvalorizado e que diz respeito à minha área profissional, a Educação Física. Isto numa altura em que se fala muito da importância do Desporto Escolar quando este só faz sentido se a disciplina de Educação Física contiver os pressupostos fundamentais para o seu sucesso o que não se verifica. É bom lembrar que o Desporto Escolar e a disciplina de Educação Física ocupam o mesmo espaço físico.
Parto do princípio que a Educação Física é a essência do desporto nas escolas e quando esta não atinge os objectivos, não adianta, melhor, só prejudica, apostar no complemento que é o Desporto Escolar. Valorizar esta área quando a principal é subaproveitada é inverter os valores, tentando-se transmitir uma falsa imagem de qualidade e modernidade.
Uma outra realidade é o crescente aumento dos precoces problemas de saúde nos nossos jovens como os diabetes, a obesidade, o tabagismo, o álcool entre outros. E que soluções preconizam? Apostam no Desporto Escolar que abrange numa perspectiva optimista, 15% da comunidade escolar em vez de valorizar a disciplina de Educação Física que abrange quase 100% da comunidade escolar.
Fica bem e é bonito desenvolver o Desporto Escolar, mas não contribui para a melhoria do nível de desenvolvimento e crescimento saudável dos jovens.
Estou convencido que na maioria dos governos que tivemos desde que existe a democracia — mais para trás não posso avaliar — que sempre se olhou para a Educação Física como uma disciplina mais de lazer do que uma disciplina curricular na sua verdadeira acepção da palavra. Estou convencido que essa atitude pegou de estaca na maioria das nossas escolas, com culpas de todos nessa situação.
É uma realidade que pode ser facilmente transformada e que passo a explicar. Na maioria das aulas, num mesmo pavilhão, elas decorrem com a presença de três turmas em simultâneo. Isto perfaz, numa perspectiva optimista, 60 alunos em simultâneo no ginásio!
É fácil concluir quais são as condições para se desenvolver uma aula minimamente credível e útil para os jovens, ou seja, muito limitadas. Que esforço físico faz o aluno de forma adequada nestas condições? Que planeamento é possível fazer por parte do docente nestas condições? Que estrutura prática-motora adequada é possível fazer nestas condições? Quantas calorias gasta um aluno numa aula nestas condições? O que aprende um aluno nestas condições? Que motivação tem este aluno nestas condições ?
Todavia, numa análise cuidada à realidade das escolas é fácil concluir que é possível — e isto é muito importante — a realização das aulas com apenas duas turmas presentes em simultâneo num ginásio, ou pavilhão e isso faz toda a diferença, quer para os alunos, quer para os professores.
Para isso basta que os horários sejam feitos tendo em conta esta situação. Se na elaboração dos horários tivermos em conta estas realidades, se fizerem os horários tendo em conta os interesses dos alunos, é perfeitamente possível fazer os horários de forma a estarem apenas duas turmas em simultâneo num pavilhão e, repito isso faz a diferença.
Se os horários forem bem elaborados ainda sobram horas para o Desporto Escolar. Repito: É URGENTE RECTIFICAR OS HORÁRIOS.
Numa sociedade como a nossa cada vez mais sedentária, invadida por divertimentos e passatempos tecnológicos que convidam ao imobilismo físico, continuar a olhar para a Educação Física como uma disciplina de segunda importância é um erro crasso que um dia a Saúde Pública das novas gerações se encarregará de mostrar.
Cordiais cumprimentos
Sérgio Cunha Machado Augusto
Professor de Educação Física. Leitor do jornal a Página da Educação."
O colega Sérgio fomenta uma discussão antiga que teima em manter-se actual: a relação entre as dimensões lectiva e extra-lectiva; a relação entre a educação física e o desporto escolar. Levanta também um conjunto de questões igualmente relevantes acerca das condições da prática. Mas a questão central que importa esclarecer [ainda numa lógica de aferir as bases em que deixamos assentar as nossas crenças] é a seguinte:
Será que existe um risco manifesto do poder central subverter [por constrangimentos vários] a ordem valorativa da Educação Física e do Desporto Escolar?
PS: Peço desculpa aos colegas do grupo de discussão por me afastar do tema que motivou este blogue. Voltarei ao assunto principal brevemente.
"Ao director de a Página
Caro Colega
Sou professor de Educação Física há cerca de 12 anos. Queria comentar um tema constantemente subvalorizado e que diz respeito à minha área profissional, a Educação Física. Isto numa altura em que se fala muito da importância do Desporto Escolar quando este só faz sentido se a disciplina de Educação Física contiver os pressupostos fundamentais para o seu sucesso o que não se verifica. É bom lembrar que o Desporto Escolar e a disciplina de Educação Física ocupam o mesmo espaço físico.
Parto do princípio que a Educação Física é a essência do desporto nas escolas e quando esta não atinge os objectivos, não adianta, melhor, só prejudica, apostar no complemento que é o Desporto Escolar. Valorizar esta área quando a principal é subaproveitada é inverter os valores, tentando-se transmitir uma falsa imagem de qualidade e modernidade.
Uma outra realidade é o crescente aumento dos precoces problemas de saúde nos nossos jovens como os diabetes, a obesidade, o tabagismo, o álcool entre outros. E que soluções preconizam? Apostam no Desporto Escolar que abrange numa perspectiva optimista, 15% da comunidade escolar em vez de valorizar a disciplina de Educação Física que abrange quase 100% da comunidade escolar.
Fica bem e é bonito desenvolver o Desporto Escolar, mas não contribui para a melhoria do nível de desenvolvimento e crescimento saudável dos jovens.
Estou convencido que na maioria dos governos que tivemos desde que existe a democracia — mais para trás não posso avaliar — que sempre se olhou para a Educação Física como uma disciplina mais de lazer do que uma disciplina curricular na sua verdadeira acepção da palavra. Estou convencido que essa atitude pegou de estaca na maioria das nossas escolas, com culpas de todos nessa situação.
É uma realidade que pode ser facilmente transformada e que passo a explicar. Na maioria das aulas, num mesmo pavilhão, elas decorrem com a presença de três turmas em simultâneo. Isto perfaz, numa perspectiva optimista, 60 alunos em simultâneo no ginásio!
É fácil concluir quais são as condições para se desenvolver uma aula minimamente credível e útil para os jovens, ou seja, muito limitadas. Que esforço físico faz o aluno de forma adequada nestas condições? Que planeamento é possível fazer por parte do docente nestas condições? Que estrutura prática-motora adequada é possível fazer nestas condições? Quantas calorias gasta um aluno numa aula nestas condições? O que aprende um aluno nestas condições? Que motivação tem este aluno nestas condições ?
Todavia, numa análise cuidada à realidade das escolas é fácil concluir que é possível — e isto é muito importante — a realização das aulas com apenas duas turmas presentes em simultâneo num ginásio, ou pavilhão e isso faz toda a diferença, quer para os alunos, quer para os professores.
Para isso basta que os horários sejam feitos tendo em conta esta situação. Se na elaboração dos horários tivermos em conta estas realidades, se fizerem os horários tendo em conta os interesses dos alunos, é perfeitamente possível fazer os horários de forma a estarem apenas duas turmas em simultâneo num pavilhão e, repito isso faz a diferença.
Se os horários forem bem elaborados ainda sobram horas para o Desporto Escolar. Repito: É URGENTE RECTIFICAR OS HORÁRIOS.
Numa sociedade como a nossa cada vez mais sedentária, invadida por divertimentos e passatempos tecnológicos que convidam ao imobilismo físico, continuar a olhar para a Educação Física como uma disciplina de segunda importância é um erro crasso que um dia a Saúde Pública das novas gerações se encarregará de mostrar.
Cordiais cumprimentos
Sérgio Cunha Machado Augusto
Professor de Educação Física. Leitor do jornal a Página da Educação."
O colega Sérgio fomenta uma discussão antiga que teima em manter-se actual: a relação entre as dimensões lectiva e extra-lectiva; a relação entre a educação física e o desporto escolar. Levanta também um conjunto de questões igualmente relevantes acerca das condições da prática. Mas a questão central que importa esclarecer [ainda numa lógica de aferir as bases em que deixamos assentar as nossas crenças] é a seguinte:
Será que existe um risco manifesto do poder central subverter [por constrangimentos vários] a ordem valorativa da Educação Física e do Desporto Escolar?
PS: Peço desculpa aos colegas do grupo de discussão por me afastar do tema que motivou este blogue. Voltarei ao assunto principal brevemente.
terça-feira, junho 14, 2005
Será uma questão de retórica?
[Afastando-me por breves instantes do tema deste blogue...]
Siedentop (2002) considera que há três grandes objectivos para os programas de desporto juvenil: o objectivo educativo, o objectivo da saúde pública e o objectivo do desenvolvimento da elite. Há um quarto objectivo que, sendo menos aparente, não é menos importante: preservar, proteger, e realçar práticas do desporto.
Que objectivos devem abraçar o desporto escolar?
PS: Como se "quanlificam", desculpem o torto neologismo, o cumprimento desses objectivos?
Henrique Santos [comentário]
Siedentop (2002) considera que há três grandes objectivos para os programas de desporto juvenil: o objectivo educativo, o objectivo da saúde pública e o objectivo do desenvolvimento da elite. Há um quarto objectivo que, sendo menos aparente, não é menos importante: preservar, proteger, e realçar práticas do desporto.
Que objectivos devem abraçar o desporto escolar?
PS: Como se "quanlificam", desculpem o torto neologismo, o cumprimento desses objectivos?
Henrique Santos [comentário]
O desporto escolar está de parabéns!
Caros colegas
Recupero um pequeno texto [foi produzido no final do Euro 2004], provocatório, porventura deslocado no alvo. Deslocado porque tentei abordar os especialistas de bancada, jornalistas e “opinadores” mediáticos. Mas, atenção: A questão inicial também poderá servir de ponto de partida para uma discussão séria. Depende do olhar que lançarmos para o assunto.
Quais os efeitos dos resultados obtidos pela selecção portuguesa no Euro 2004 para o desporto escolar?
Sempre que o país se faz representar numa competição desportiva internacional (Jogos Olímpicos, Campeonatos da Europa e do Mundo) e as classificações alcançadas não correspondem às expectativas dos órgãos de comunicação social, os peritos do espectáculo desportivo dirigem os seus olhares para a escola, procurando encontrar as causas mais profundas do pretenso insucesso desportivo. O passado tem sido fértil em debates televisivos com painéis de especialistas em adeptos (é assim que muitos deles se auto designam), com um estatuto de “residentes”, que se entretêm a dissecar(?) o fenómeno desportivo. A posição destes adeptos é extremamente cómoda. Afinal, o que é que se pode esperar de uma adepto? Aquilo que o próprio conceito encerra: que seja um admirador, um apaixonado, que simpatize com a coisa desportiva. A substância da sua opinião no quadro em que ela se desenvolve poderá conduzir, facilmente, à irracionalidade. Ora, sendo certo que o clima em que decorrem as conversas acerca do futebol garante a audiência, ele poderá não conduzir à sapiência. Como o critério formativo não tem sido adoptado pela comunicação social nas discussões sobre o desporto, o esclarecimento terá de ser procurado noutros locais.
Mas, voltando à questão inicial, será que após o Euro 2004 se falará do desporto escolar?
Sim, se se considerar o desporto escolar como um dos pilares do modelo de desenvolvimento desportivo nacional. Nesta perspectiva, seria legitimo que o desporto escolar agregasse créditos pelos sucessos e descrédito pelos insucessos do desporto nacional. No momento em que a selecção nacional de futebol está na elite do futebol mundial, será que não existem motivos para enaltecer o trabalho que se realiza nas escolas portuguesas?
Não, se se considerar que à escola não compete a formação desportiva de base ou concorrendo para essa formação desportiva não a realiza convenientemente e que por essa razão não tem qualquer responsabilidade nos resultados desportivos nacionais.
Este olhar espontâneo não representa a complexidade da relação entre os resultados desportivos e os modelos de prática que lhes subjazem. Esta questão requer uma análise mais profunda e alargada porque o nosso modelo de prática do desporto escolar encerra um conjunto de equívocos e paradoxos.
Mas é um olhar que serve para provocarmos os comentadores desportivos, exigindo que sejam congruentes nas análises.
Recupero um pequeno texto [foi produzido no final do Euro 2004], provocatório, porventura deslocado no alvo. Deslocado porque tentei abordar os especialistas de bancada, jornalistas e “opinadores” mediáticos. Mas, atenção: A questão inicial também poderá servir de ponto de partida para uma discussão séria. Depende do olhar que lançarmos para o assunto.
Quais os efeitos dos resultados obtidos pela selecção portuguesa no Euro 2004 para o desporto escolar?
Sempre que o país se faz representar numa competição desportiva internacional (Jogos Olímpicos, Campeonatos da Europa e do Mundo) e as classificações alcançadas não correspondem às expectativas dos órgãos de comunicação social, os peritos do espectáculo desportivo dirigem os seus olhares para a escola, procurando encontrar as causas mais profundas do pretenso insucesso desportivo. O passado tem sido fértil em debates televisivos com painéis de especialistas em adeptos (é assim que muitos deles se auto designam), com um estatuto de “residentes”, que se entretêm a dissecar(?) o fenómeno desportivo. A posição destes adeptos é extremamente cómoda. Afinal, o que é que se pode esperar de uma adepto? Aquilo que o próprio conceito encerra: que seja um admirador, um apaixonado, que simpatize com a coisa desportiva. A substância da sua opinião no quadro em que ela se desenvolve poderá conduzir, facilmente, à irracionalidade. Ora, sendo certo que o clima em que decorrem as conversas acerca do futebol garante a audiência, ele poderá não conduzir à sapiência. Como o critério formativo não tem sido adoptado pela comunicação social nas discussões sobre o desporto, o esclarecimento terá de ser procurado noutros locais.
Mas, voltando à questão inicial, será que após o Euro 2004 se falará do desporto escolar?
Sim, se se considerar o desporto escolar como um dos pilares do modelo de desenvolvimento desportivo nacional. Nesta perspectiva, seria legitimo que o desporto escolar agregasse créditos pelos sucessos e descrédito pelos insucessos do desporto nacional. No momento em que a selecção nacional de futebol está na elite do futebol mundial, será que não existem motivos para enaltecer o trabalho que se realiza nas escolas portuguesas?
Não, se se considerar que à escola não compete a formação desportiva de base ou concorrendo para essa formação desportiva não a realiza convenientemente e que por essa razão não tem qualquer responsabilidade nos resultados desportivos nacionais.
Este olhar espontâneo não representa a complexidade da relação entre os resultados desportivos e os modelos de prática que lhes subjazem. Esta questão requer uma análise mais profunda e alargada porque o nosso modelo de prática do desporto escolar encerra um conjunto de equívocos e paradoxos.
Mas é um olhar que serve para provocarmos os comentadores desportivos, exigindo que sejam congruentes nas análises.
quinta-feira, junho 09, 2005
Desportivização da educação física...?
Caros colegas,
Ao procurar clarificar conceitos sou obrigado a contestar algumas das vacas sagradas que me acompanharam durante a formação académica.
A afirmação de que a educação física é a porta de entrada para um estilo de vida activo, em vez de ser encarada como um dos pilares do desporto de elite, não tem encontrado eco nas práticas e nas concepções dos professores acerca das suas práticas.
Contudo, e aceitando esta afirmação como válida, fará sentido “desportivizar” as aulas de Educação Física?
Um abraço
Miguel Pinto
Ao procurar clarificar conceitos sou obrigado a contestar algumas das vacas sagradas que me acompanharam durante a formação académica.
A afirmação de que a educação física é a porta de entrada para um estilo de vida activo, em vez de ser encarada como um dos pilares do desporto de elite, não tem encontrado eco nas práticas e nas concepções dos professores acerca das suas práticas.
Contudo, e aceitando esta afirmação como válida, fará sentido “desportivizar” as aulas de Educação Física?
Um abraço
Miguel Pinto
Organização da competição
Vou entrar no debate em forma de nota /teses muitas vezes sem me referir a algum dos colegas em concreto mas a questões entretanto afloradas:
- Refiro-me no que digo essencialmente à prática desportiva de jogos colectivos. Reconheço haver diferenças substanciais se falasse de alguns desportos individuais, tipo ginástica ou natação. Quando falo num desporto escolar falo essencialmente de basquetebol pois é o desporto em que tenho mais experiência de formação.
- Continuo a pensar que é preciso fazer definições prévias. Desporto infantil (DI) para mim é aquele praticado por crianças antes da puberdade, em idades (cerca dos 8 a 11) que lhes permitem aceder a práticas ditas desportivas relacionadas com as formais). As características destas idades marcam substancial diferença na constituição física psíquica e social em relação aos púberes ou adolescentes - estes enquadrados no Desporto Juvenil. O Desporto de formação englobaria o desporto infantil e o juvenil, antes da entrada no desporto adulto que pode adoptar as formas de baixa, média ou alta competição em função do nível de prática dos seus praticantes ou formas de recreação. Antes do desporto infantil penso haver lugar a uma formação orientada de EF base em que o desporto como o conhecemos não cabe ainda, o que devem existir são jogos e a formação lúdico-motora.
- Os contextos de prática do desporto infantil podem ser diferentes, escola ou clube, associação, autarquia, mas devem ter objectivos e formas de actuação etc. iguais. De preferência o desporto infantil deveria ser feito em contexto escolar sob a orientação de professores de EF devidamente formados. O contexto clubístico é possível mas traz mais possibilidades de desvirtuação das práticas formativas a este nível. Mas quando inexiste o escolar, o clubístico ou associativo ou municipal são possibilidades a não descartar.
- Aquilo a que chamam infantis B (actualmente nascidos em 92 e 93) no desporto escolar mistura escolares pré e pós púberes o que lhe dá deste ponto de vista uma grande necessidade de diferenciação pedagógica das práticas. Os considerados Infantis B (nascidos em 94 e 95) correspondem mais verdadeiramente ao desporto infantil pois os seus praticantes estão todos numa fase claramente pré-púbere. No desporto federado há um desfasamento de designações e de idades. Salvo erro chamam iniciados no Basquetebol aos nascidos entre 91 e 92. E minibasquete aos nascidos de 93 para baixo. Dantes, não sei se agora assim se passa, diferenciava-se entre o Mini A (dos 7/8 aos 10 e o Mini B dos 11 aos 12). A prática do minibasquete era possivelmente mista embora a maioria das equipas fossem de rapazes ou de raparigas.
- Sem querer apontar idades fixas mas meras referências, dentro do DI, eu faria as seguintes divisões gerais: Fase de prática multilateral de um conjunto de desportos (8 a 10 anos), iniciação em 1 desporto (por exemplo basquete) entre os 11 e os 12 anos, sensivelmente antes da puberdade começar. Depois disso já se entraria no início do desporto juvenil, fase de orientação-aperfeiçoamento no desporto escolhido.
- É claro que eu estou a ser esquemático, e a ter em conta principalmente o factor idade no que ele muitas vezes traduz de mudanças físicas, psíquicas, sociais. Mas rapazes ou raparigas em idades iguais estão em estádios de desenvolvimento bastante diferente e o que deve ser tido em conta são estes e não a idade cronológica. Todas as considerações que a Rita fez em cima do meu esquematismo são interessantes e partilho-as. Estão a um nível de análise do concreto diferente do meu.
- Até à ultrapassagem da puberdade as competições do desporto infantil deveriam ser mistas. A partir daí penso que as competições deveriam ser separadas. É evidente que há uma fase charneira em que em média as raparigas atingem a puberdade e o s rapazes ainda são pré-púberes que é preciso considerar. Independentemente disto penso haver todo o interesse em haver intercâmbios. Quando treinei raparigas gostava muitas vezes de treinar ou efectuar jogos treinos com rapazes, mas a competição deveria ser diferenciada a partir dessa idade. O mesmo também pode acontecer ao contrário. Treinos ou jogos treinos entre equipas fracas de rapazes e fortes de raparigas ou o contrário são de estimular e muito interessantes principalmente possíveis quando na mesma instituição há rapazes e raparigas a praticar a mesma modalidade. Treinos conjuntos ou mistos são também possibilidades interessantes. Agora de todo, é importante a equidade competitiva quando se colocam a defrontar equipas. Um jogador aprende pouco quando não encontra oposição equitativa ou ligeiramente diferente. É um cuidado a ter particularmente em conta. Dantes no minibasquete juntavam-se todas as equipas num encontro festa inicial onde se aquilatavam da valia das equipas para se proceder à divisão por séries equilibradas, não sei se agora se faz isso. Por outro lado nestas idades infantis e não só, há outras formas de equilibrar as coisas e desmistificar a competição, fazendo misturar as equipas, contrariando o clubismo ou equipismo, ou campeonite e fazendo jogar relacionar os jogadores de várias equipas. A fórmula de Festa do minibasquete, com múltiplas actividades de carácter técnico culminando com jogos de equipas todas misturadas é para mim o ideal. Os jamboris que aliam ao anterior vivências múltiplas de carácter social, cultural e artístico ao desportivo são momentos culminantes do desporto infantil que todos os desportistas infantis (e não só deveriam desfrutar). A existência de prémios que devem ser iguais para todos independentemente das classificações podem e deve diferenciar só em certos casos, que não constituem discriminações mas valorizações positivas: o jogador Fair-Play; o jogador mais esforçado; etc., prémios esses, simbólicos que muitas vezes descoincidem dos jogadores com mais sucesso meramente competitivo. A existência de muitas séries proporciona muitos vencedores. Esqueçam os faseamentos até chegar ao supra vencedor. O importante é jogar muito e fazer desfrutar o jogo e conviver e melhorar no jogo. A atitude de orientação dos treinadores nos jogos (e nos treinos) deve ser cuidadosa e aqui há muito a fazer. Nada de muitos gritos, mas apoio informativo sereno e formativo. Apesar de muito jovens, as crianças podem e devem participar muito activamente na organização, dos treinos e competições. Devem-lhes ser atribuídas rotativamente responsabilidades que estejam ao seu alcance.
- A formação das crianças em formação, infantis neste caso deve estar a cargo de pessoas devidamente formadas. Admito a presença de monitores jovens, que não sejam professores de EF, se devidamente enquadrados por professores de EF devidamente formados, que cuidarão do planeamento, supervisão e acompanhamento dos treinos e jogos. Não me parece que isto esteja a acontecer muito no desporto infantil. Todo o aspirante a monitor ou treinador deve passar por formação e indução e acompanhamento por um treinador experiente. O que me parece acontecer, principalmente no Desporto infantil em contextos federados é darem a responsabilidade a jovens jogadores muito novos, sem formação e não apoiados.
- Quando há competição, isto é, oposição entre equipas diferentes, os modelos devem ser altamente cuidados na sua organização e preparação. Vários artigos do Mestre (com M enorme) Teotónio Lima são pérolas no que concerne aos cuidados a ter na organização das competições infantis e juvenis e nos contextos da iniciação desportiva. Os colegas mais novos deveriam, caso não conheçam, ler as ideias expressas por este e outros velhinhos do nosso desporto (cito também o Hermínio Barreto, uma sumidade na pedagogia do basquete em idades formativas.) Também aqui, há claramente contextos competitivos que propiciam a campeonite e outros que propiciam a formação, o fair play.
- A possibilidade de discriminação existente no DI fica extremamente atenuada com certas medidas administrativas, tais como, obrigatoriedade de todos os jogadores jogarem iguais períodos de jogo. Indo mais além da dita regra de ouro,, isto é dos quatro períodos jogar nos três primeiros um mínimo de um e um máximo de dois o que permite que haja jogadores que jogam 3 períodos e outros apenas um. Esta regra iria ter repercussões na atitude formal dos treinadores. Os treinadores e principalmente os mais jovens, tendem a reproduzir mais certos contextos que vivem ou viveram. A capacidade de aceitar a vitória ou a derrota é menor nestes colegas em fase de afirmação que passa segundo eles pela vitória mesmo que a custo de alguns valores formativos. Mas há várias soluções para isto, administrativas, formativas, culturais etc., que apontei durante este texto.
- O desporto infantil tanto pode ser muito enriquecedor e formativo, como pode ser frustrante e deformativo. Os fenómenos de abandono desportivo são preocupantes e apontam erros crassos a ter em devida conta.
- Embora gostasse de dizer mais coisas, fico-me para já por aqui neste espaço interessante de debate promovido pelo Prof. Amândio.
Um abraço.
Henrique Santos
- Refiro-me no que digo essencialmente à prática desportiva de jogos colectivos. Reconheço haver diferenças substanciais se falasse de alguns desportos individuais, tipo ginástica ou natação. Quando falo num desporto escolar falo essencialmente de basquetebol pois é o desporto em que tenho mais experiência de formação.
- Continuo a pensar que é preciso fazer definições prévias. Desporto infantil (DI) para mim é aquele praticado por crianças antes da puberdade, em idades (cerca dos 8 a 11) que lhes permitem aceder a práticas ditas desportivas relacionadas com as formais). As características destas idades marcam substancial diferença na constituição física psíquica e social em relação aos púberes ou adolescentes - estes enquadrados no Desporto Juvenil. O Desporto de formação englobaria o desporto infantil e o juvenil, antes da entrada no desporto adulto que pode adoptar as formas de baixa, média ou alta competição em função do nível de prática dos seus praticantes ou formas de recreação. Antes do desporto infantil penso haver lugar a uma formação orientada de EF base em que o desporto como o conhecemos não cabe ainda, o que devem existir são jogos e a formação lúdico-motora.
- Os contextos de prática do desporto infantil podem ser diferentes, escola ou clube, associação, autarquia, mas devem ter objectivos e formas de actuação etc. iguais. De preferência o desporto infantil deveria ser feito em contexto escolar sob a orientação de professores de EF devidamente formados. O contexto clubístico é possível mas traz mais possibilidades de desvirtuação das práticas formativas a este nível. Mas quando inexiste o escolar, o clubístico ou associativo ou municipal são possibilidades a não descartar.
- Aquilo a que chamam infantis B (actualmente nascidos em 92 e 93) no desporto escolar mistura escolares pré e pós púberes o que lhe dá deste ponto de vista uma grande necessidade de diferenciação pedagógica das práticas. Os considerados Infantis B (nascidos em 94 e 95) correspondem mais verdadeiramente ao desporto infantil pois os seus praticantes estão todos numa fase claramente pré-púbere. No desporto federado há um desfasamento de designações e de idades. Salvo erro chamam iniciados no Basquetebol aos nascidos entre 91 e 92. E minibasquete aos nascidos de 93 para baixo. Dantes, não sei se agora assim se passa, diferenciava-se entre o Mini A (dos 7/8 aos 10 e o Mini B dos 11 aos 12). A prática do minibasquete era possivelmente mista embora a maioria das equipas fossem de rapazes ou de raparigas.
- Sem querer apontar idades fixas mas meras referências, dentro do DI, eu faria as seguintes divisões gerais: Fase de prática multilateral de um conjunto de desportos (8 a 10 anos), iniciação em 1 desporto (por exemplo basquete) entre os 11 e os 12 anos, sensivelmente antes da puberdade começar. Depois disso já se entraria no início do desporto juvenil, fase de orientação-aperfeiçoamento no desporto escolhido.
- É claro que eu estou a ser esquemático, e a ter em conta principalmente o factor idade no que ele muitas vezes traduz de mudanças físicas, psíquicas, sociais. Mas rapazes ou raparigas em idades iguais estão em estádios de desenvolvimento bastante diferente e o que deve ser tido em conta são estes e não a idade cronológica. Todas as considerações que a Rita fez em cima do meu esquematismo são interessantes e partilho-as. Estão a um nível de análise do concreto diferente do meu.
- Até à ultrapassagem da puberdade as competições do desporto infantil deveriam ser mistas. A partir daí penso que as competições deveriam ser separadas. É evidente que há uma fase charneira em que em média as raparigas atingem a puberdade e o s rapazes ainda são pré-púberes que é preciso considerar. Independentemente disto penso haver todo o interesse em haver intercâmbios. Quando treinei raparigas gostava muitas vezes de treinar ou efectuar jogos treinos com rapazes, mas a competição deveria ser diferenciada a partir dessa idade. O mesmo também pode acontecer ao contrário. Treinos ou jogos treinos entre equipas fracas de rapazes e fortes de raparigas ou o contrário são de estimular e muito interessantes principalmente possíveis quando na mesma instituição há rapazes e raparigas a praticar a mesma modalidade. Treinos conjuntos ou mistos são também possibilidades interessantes. Agora de todo, é importante a equidade competitiva quando se colocam a defrontar equipas. Um jogador aprende pouco quando não encontra oposição equitativa ou ligeiramente diferente. É um cuidado a ter particularmente em conta. Dantes no minibasquete juntavam-se todas as equipas num encontro festa inicial onde se aquilatavam da valia das equipas para se proceder à divisão por séries equilibradas, não sei se agora se faz isso. Por outro lado nestas idades infantis e não só, há outras formas de equilibrar as coisas e desmistificar a competição, fazendo misturar as equipas, contrariando o clubismo ou equipismo, ou campeonite e fazendo jogar relacionar os jogadores de várias equipas. A fórmula de Festa do minibasquete, com múltiplas actividades de carácter técnico culminando com jogos de equipas todas misturadas é para mim o ideal. Os jamboris que aliam ao anterior vivências múltiplas de carácter social, cultural e artístico ao desportivo são momentos culminantes do desporto infantil que todos os desportistas infantis (e não só deveriam desfrutar). A existência de prémios que devem ser iguais para todos independentemente das classificações podem e deve diferenciar só em certos casos, que não constituem discriminações mas valorizações positivas: o jogador Fair-Play; o jogador mais esforçado; etc., prémios esses, simbólicos que muitas vezes descoincidem dos jogadores com mais sucesso meramente competitivo. A existência de muitas séries proporciona muitos vencedores. Esqueçam os faseamentos até chegar ao supra vencedor. O importante é jogar muito e fazer desfrutar o jogo e conviver e melhorar no jogo. A atitude de orientação dos treinadores nos jogos (e nos treinos) deve ser cuidadosa e aqui há muito a fazer. Nada de muitos gritos, mas apoio informativo sereno e formativo. Apesar de muito jovens, as crianças podem e devem participar muito activamente na organização, dos treinos e competições. Devem-lhes ser atribuídas rotativamente responsabilidades que estejam ao seu alcance.
- A formação das crianças em formação, infantis neste caso deve estar a cargo de pessoas devidamente formadas. Admito a presença de monitores jovens, que não sejam professores de EF, se devidamente enquadrados por professores de EF devidamente formados, que cuidarão do planeamento, supervisão e acompanhamento dos treinos e jogos. Não me parece que isto esteja a acontecer muito no desporto infantil. Todo o aspirante a monitor ou treinador deve passar por formação e indução e acompanhamento por um treinador experiente. O que me parece acontecer, principalmente no Desporto infantil em contextos federados é darem a responsabilidade a jovens jogadores muito novos, sem formação e não apoiados.
- Quando há competição, isto é, oposição entre equipas diferentes, os modelos devem ser altamente cuidados na sua organização e preparação. Vários artigos do Mestre (com M enorme) Teotónio Lima são pérolas no que concerne aos cuidados a ter na organização das competições infantis e juvenis e nos contextos da iniciação desportiva. Os colegas mais novos deveriam, caso não conheçam, ler as ideias expressas por este e outros velhinhos do nosso desporto (cito também o Hermínio Barreto, uma sumidade na pedagogia do basquete em idades formativas.) Também aqui, há claramente contextos competitivos que propiciam a campeonite e outros que propiciam a formação, o fair play.
- A possibilidade de discriminação existente no DI fica extremamente atenuada com certas medidas administrativas, tais como, obrigatoriedade de todos os jogadores jogarem iguais períodos de jogo. Indo mais além da dita regra de ouro,, isto é dos quatro períodos jogar nos três primeiros um mínimo de um e um máximo de dois o que permite que haja jogadores que jogam 3 períodos e outros apenas um. Esta regra iria ter repercussões na atitude formal dos treinadores. Os treinadores e principalmente os mais jovens, tendem a reproduzir mais certos contextos que vivem ou viveram. A capacidade de aceitar a vitória ou a derrota é menor nestes colegas em fase de afirmação que passa segundo eles pela vitória mesmo que a custo de alguns valores formativos. Mas há várias soluções para isto, administrativas, formativas, culturais etc., que apontei durante este texto.
- O desporto infantil tanto pode ser muito enriquecedor e formativo, como pode ser frustrante e deformativo. Os fenómenos de abandono desportivo são preocupantes e apontam erros crassos a ter em devida conta.
- Embora gostasse de dizer mais coisas, fico-me para já por aqui neste espaço interessante de debate promovido pelo Prof. Amândio.
Um abraço.
Henrique Santos
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