sexta-feira, junho 17, 2005

Educação Física

[[Partilho convosco esta carta aberta ao director da Página da Educação. Se pretenderem passear pelo jornal bastará carregar aqui.]

"Ao director de a Página
Caro Colega
Sou professor de Educação Física há cerca de 12 anos. Queria comentar um tema constantemente subvalorizado e que diz respeito à minha área profissional, a Educação Física. Isto numa altura em que se fala muito da importância do Desporto Escolar quando este só faz sentido se a disciplina de Educação Física contiver os pressupostos fundamentais para o seu sucesso o que não se verifica. É bom lembrar que o Desporto Escolar e a disciplina de Educação Física ocupam o mesmo espaço físico.
Parto do princípio que a Educação Física é a essência do desporto nas escolas e quando esta não atinge os objectivos, não adianta, melhor, só prejudica, apostar no complemento que é o Desporto Escolar. Valorizar esta área quando a principal é subaproveitada é inverter os valores, tentando-se transmitir uma falsa imagem de qualidade e modernidade.
Uma outra realidade é o crescente aumento dos precoces problemas de saúde nos nossos jovens como os diabetes, a obesidade, o tabagismo, o álcool entre outros. E que soluções preconizam? Apostam no Desporto Escolar que abrange numa perspectiva optimista, 15% da comunidade escolar em vez de valorizar a disciplina de Educação Física que abrange quase 100% da comunidade escolar.
Fica bem e é bonito desenvolver o Desporto Escolar, mas não contribui para a melhoria do nível de desenvolvimento e crescimento saudável dos jovens.
Estou convencido que na maioria dos governos que tivemos desde que existe a democracia — mais para trás não posso avaliar — que sempre se olhou para a Educação Física como uma disciplina mais de lazer do que uma disciplina curricular na sua verdadeira acepção da palavra. Estou convencido que essa atitude pegou de estaca na maioria das nossas escolas, com culpas de todos nessa situação.
É uma realidade que pode ser facilmente transformada e que passo a explicar. Na maioria das aulas, num mesmo pavilhão, elas decorrem com a presença de três turmas em simultâneo. Isto perfaz, numa perspectiva optimista, 60 alunos em simultâneo no ginásio!
É fácil concluir quais são as condições para se desenvolver uma aula minimamente credível e útil para os jovens, ou seja, muito limitadas. Que esforço físico faz o aluno de forma adequada nestas condições? Que planeamento é possível fazer por parte do docente nestas condições? Que estrutura prática-motora adequada é possível fazer nestas condições? Quantas calorias gasta um aluno numa aula nestas condições? O que aprende um aluno nestas condições? Que motivação tem este aluno nestas condições ?
Todavia, numa análise cuidada à realidade das escolas é fácil concluir que é possível — e isto é muito importante — a realização das aulas com apenas duas turmas presentes em simultâneo num ginásio, ou pavilhão e isso faz toda a diferença, quer para os alunos, quer para os professores.
Para isso basta que os horários sejam feitos tendo em conta esta situação. Se na elaboração dos horários tivermos em conta estas realidades, se fizerem os horários tendo em conta os interesses dos alunos, é perfeitamente possível fazer os horários de forma a estarem apenas duas turmas em simultâneo num pavilhão e, repito isso faz a diferença.
Se os horários forem bem elaborados ainda sobram horas para o Desporto Escolar. Repito: É URGENTE RECTIFICAR OS HORÁRIOS.
Numa sociedade como a nossa cada vez mais sedentária, invadida por divertimentos e passatempos tecnológicos que convidam ao imobilismo físico, continuar a olhar para a Educação Física como uma disciplina de segunda importância é um erro crasso que um dia a Saúde Pública das novas gerações se encarregará de mostrar.
Cordiais cumprimentos
Sérgio Cunha Machado Augusto
Professor de Educação Física. Leitor do jornal a Página da Educação."

O colega Sérgio fomenta uma discussão antiga que teima em manter-se actual: a relação entre as dimensões lectiva e extra-lectiva; a relação entre a educação física e o desporto escolar. Levanta também um conjunto de questões igualmente relevantes acerca das condições da prática. Mas a questão central que importa esclarecer [ainda numa lógica de aferir as bases em que deixamos assentar as nossas crenças] é a seguinte:
Será que existe um risco manifesto do poder central subverter [por constrangimentos vários] a ordem valorativa da Educação Física e do Desporto Escolar?

PS: Peço desculpa aos colegas do grupo de discussão por me afastar do tema que motivou este blogue. Voltarei ao assunto principal brevemente.

1 comentário:

«« disse...

A aula de EF deveria ser diária, enquanto isso não acontecer o contributo que esta pode dar para a saúde dos alunos é residual. Por outro lado, parece-me fundamental o papel do desporto no seio da educação física. Se for ensinar desporto por desporto, então a pergunta que se coloca: Para quê mais de 3 segmentos semanais?, será que é mais importante do que os conteúdos a leccionar nas outras disciplinas para ter mais carga horária? Caso se olhe o desporto como um meio de promover a saúde dos alunos, aí justifica-se (em meu entender) o alargamento da sua frequência (para diária)...