quinta-feira, junho 09, 2005

Desportivização da educação física...?

Caros colegas,
Ao procurar clarificar conceitos sou obrigado a contestar algumas das vacas sagradas que me acompanharam durante a formação académica.
A afirmação de que a educação física é a porta de entrada para um estilo de vida activo, em vez de ser encarada como um dos pilares do desporto de elite, não tem encontrado eco nas práticas e nas concepções dos professores acerca das suas práticas.
Contudo, e aceitando esta afirmação como válida, fará sentido “desportivizar” as aulas de Educação Física?
Um abraço

Miguel Pinto

14 comentários:

«« disse...

Caro amigo, o problema é que os colegas t~em aberto as portas no sentido contrário, afirmando, na mesmas, que o que querem é estimular estilos de vida saudáveis. Mas uma coisa te digo, a importância de aprender andebol não me parece maior do que aprender qualquer matéria da geografia ou outra. A questão é simples: se a importância é a mesma, porque é que a nossa disciplina deve ter mais carga horária. Tu já sabes a minha opinião acerca do assunto. Aquele abraço.

«« disse...

Professor Amândio, receba os meus sinceros parabéns pela iniciativa do blogue...é muito pertinente.

Anónimo disse...

Ora aí está uma provocação interessante. Provocação não em qualquer sentido pejorativo, mas no sentido que nos obriga a olhar para o lugar onde estamos sentados para verificar se a estrutura do assento inspira confiança, se o assento está bem assente no chão e se o chão é firme ou continua firme.
No âmbito de vários estudos que tenho orientado confronto-me com opiniões e depoimentos de professores de educação física que denotam alguma insatisfação com o estado da disciplina e algum desejo de mudança. Uns querem novas modalidades, estão cansados das tradicionais. Outros querem outro tipo de matérias ou enfoques, que vão além da substituição de modalidades. Outros querem programas mais adaptados às possibilidades reais dos alunos concretos. Outros querem a formação de turmas por níveis ou sexos para se poder visar o rendimento. É natural que a insatisfação gere ideias contraditórias sobre a natureza dos problemas e as respectivas soluções.
A educação física é a porta de entrada para um estilo de vida activo, em vez de ser um dos pilares do desporto de elite. Podemos aplicar esta mesma ideia a todas as outras disciplinas escolares. Se assim for, ensina-se as ciências da natureza, a matemática não para formar a elite de cientistas, ou de matemáticos, mas para formar o cidadão que compreende e aplica as ferramentas básicas desses domínios no seu quotidiano. Uma muito minoria constituirá o escol de cientistas ou matemáticos, ou desportistas de elite...
Portanto a educação física não pode existir para favorecer primordialmente, ou estar ao serviço de uma elite. Ela tem sido acusada muitas vezes por ter uma orientação elitista e segregadora principalmente para a maioria das raparigas e para rapazes de nível de habilidade mais baixo. Há vozes criticas no seio da Educação Física a reclamar o banimento do desporto e a competição da educação física, porque são eles a fonte do elitismo e da segregação.
Há outras vozes, entre as quais me incluo, que reclamam uma educação desportiva, diferente da tradicional, mais autêntica e mais inclusiva, refiro-me ao modelo de educação desportiva proposto por Siedentop e sobre o qual já escrevi várias coisas, ao ensino dos jogos para a compreensão, ou ao modelo de competência no ensino dos jogos desportivos.
Na faculdade tem-se promovido, de forma mais ou menos consequente, o paradigma de desporto plural, que obriga necessariamente a refazer as fronteiras do conceito tradicional de desporto. O desporto tradicional não é atirado pela borda fora, mas deixa de ser o modelo único. Será porventura este movimento de reconceptualização das fronteiras de desporto e de acomodação dos novos entendimentos que estará insuficientemente realizado no nosso seio.
Esta ideia de desporto plural tem aparecido ligada a estilos de vida activa e às preocupações com a saúde. Uma educação para a saúde ultrapassa no entanto o nosso âmbito de intervenção específico e pode vir no futuro a dar lugar a um espaço curricular que pode acarretar redefinições importantes de papéis e perfis e de espaço de autonomia.
Apesar de serem necessárias mudanças e de se se sentir a nececessidade de mudar, as mudanças que se preconizam ou que se vão produzindo não são necessariamente positivas ou pacíficas, ou inevitáveis. Pelo que discuti-las faz todo o sentido

Obrigado Miguel, pelo desafio ao nosso assento

Um abraço


PS.
Obrigado pelos parabéns Miguel Sousa, no entanto a ideia do Blog é da Cláudia Malafaya. O meu contributo para o aparecimento do Blog consistiu na promoção de um grupo de discussão, e foi a partir dele que a ideia foi lançada.

«« disse...

Caro Professor Amândio, gostei muito do seu ponto de vista e gostava que me autorizasse a publicá-la no meu blogue (www.educarparasaude.blogspot.com), devidamente referenciada. Um abraço

Anónimo disse...

Banir o Desporto e a competição da Educação Física?
Não se subestime o seu valor …
O Desporto é uma das manifestações mais representativas da cultura do corpo e tem um enorme significado e interesse para os jovens. E Desporto sem competição não é Desporto!
A competição oferece ao jovem a possibilidade de avaliar as suas capacidades, de mostrar aquilo de que é capaz, de obter sucesso, de saber lidar com os seus insucessos, de aceitar as derrotas, de se superar, de desenvolver/melhorar as suas habilidades e competências (físicas, cognitivas, sociais …), de adquirir e desenvolver valores para a vida activa, para a vida em sociedade.
Em que medida isto acentua o elitismo, a exclusão, a segregação!?
A meu ver, não se trata de banir a competição mas de a pensar à medida dos interesses, necessidades, capacidades e competências das crianças e jovens. São os seus princípios e valores, a forma como é utilizada, que lhe conferem ou não valor educativo. Assim sendo, é na intervenção do professor que poderá residir o problema…
Não se “culpe” o Desporto e a competição!

«« disse...

Senhor Professor, acabei de publicá-lo, após ter recebido a sua autorização. Um grande abraço

Miguel Pinto disse...

Na génese de um desporto plural radica a ideia da inclusão, da aceitação da diversidade, mais, da promoção da diferença e da pessoa.
Ora, é neste quadro que surge a questão inicialmente colocada e este meu comentário. E é neste quadro que, observando a emergência do paradigma de desporto plural [cf. razões assinaladas pelo prof. Amândio], devemos rejeitar a oferta unilateral do desporto nas aulas de EF. Ou não?

Anónimo disse...

Obrigada Henrique :-)
Miguel Pinto, perdoa a minha ignorância ... não te importas de clarificar qual o significado atribuído ao conceito"oferta unilateral do desporto".

Miguel Pinto disse...

“Agradeço o teu comentário porque ele me obrigará a remexer o baú das ideias feitas. Vou socorrer-me do comentário do professor Amândio [ele não se importará]: “o paradigma de desporto plural obriga necessariamente a refazer as fronteiras do conceito tradicional de desporto. O desporto tradicional não é atirado pela borda fora, mas deixa de ser o modelo único.” A meu ver, há que alargar o leque, a extensão das práticas desportivas… Reparem na dificuldade desta tarefa num momento em que a reforma do ensino secundário [através das alterações no regime de avaliação dos alunos] reforça a necessidade do cumprimento do programa [e que programa] nacional.
A meu ver, a pluralidade de sentidos que encerra a prática do desporto reclama ao professor de EF um outro olhar. Atrevo-me a questionar, por exemplo, o conceito de comprovação nas aulas de EF [ficarão em lista de espera os conceitos de competência e de auto-avaliação]. A polissemia da palavra obriga-nos a situar o aluno num cosmos desportivo. Como é que o aluno sente a sua prestação? E que valor lhe atribui? Não se trata unicamente de o confrontar com padrões de realização. Trata-se de perceber o sentido que ele reconhece na sua prática e de antecipar [apesar da falibilidade da tarefa] os seus hábitos de prática. Será que esta equação relativiza o teor das propostas de prática?”

Miguel Pinto disse...

O desporto é plural nas formas, nos motivos e nos interesses. Não concordas, Henrique?

Anónimo disse...

Desporto plural… Desporto para todos… Desporto inclusivo… Desporto que não quer deixar ninguém de fora… Desporto que quer chegar a toda a gente…

Anónimo disse...

Ainda clarificando conceitos…
A referência à "oferta unilateral do desporto nas aulas de EF", está associada ao conceito tradicional de desporto, dos que negam e esvaziam o valor pedagógico da competição?
Na tentativa de procurar clarificar conceitos e ir de um pouco mais além, vou socorrer-me também do Professor Amândio :-)
Aqui vai…

“Um claro exemplo de renovação e de preservação do potencial educativo dos desportos tradicionais é o modelo de educação desportiva proposto por Siedentop (1987) …. O autor entende que é o esvaziamento do sentido da competição e não tanto, como dizem os críticos, o excesso dela que marca a abordagem tradicional. Por ser desvalorizada, pouco cuidada pedagogicamente é que ela se torna numa caricatura e numa experiência alienante, desconfortável ou negativa para um número considerável de alunos.
A concepção de educação desportiva estabelece como propósito formar a pessoa desportivamente competente, desportivamente culta e desportivamente entusiasta. Competente quer dizer que domina as habilidades de forma a poder participar no jogo de um modo satisfatório e que conhece, compreende e adopta um comportamento táctico apropriado ao nível de jogo praticado. Culto quer dizer que conhece e valoriza as tradições e os rituais associados ao desporto e que distinguem a boa da má prática desportiva. Entusiasta quer dizer que a prática do desporto o atrai e que é um promotor da qualidade e um defensor da autenticidade da prática desportiva.” (1)

Socorrendo-me mais uma vez das palavras utilizadas pelo Prof. Amândio neste blog (em http://desportoinfantil.blogspot.com/2005/06/ser-uma-questo-de-retrica.html), a formação do cidadão desportivamente culto, desportivamente competente e desportivamente entusiasta deveria constituir, segundo Siedentop, o propósito o tratamento do desporto na escola.

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(1) GRAÇA, A. (2004). O desporto na escola: enquadramento da prática. In: Gaya, A.; Marques. A.; Tani, G. (Orgs.) Desporto para Crianças e Jovens – Razões e Finalidades. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 97-112.

Anónimo disse...

Nice fill someone in on and this fill someone in on helped me alot in my college assignement. Thanks you on your information.

Anónimo disse...

Como já foi dito aqui, esta foi uma provocação interessante.

Vamos lá...

O desporto, independente do ambiente onde é praticado, destaca-se por sua pluralidade, e dentre a sua pluralidade, têm uma relevância social de contribuir para a educação de jovens e crianças.
Não existe um desporto com maior valor educativo praticado na educação formal - em especial na escola, por meio da disciplina EF -, e outro com valor menos educativo na educação não-formal - várias são as agências promotoras, em espcial os clubes. Isso porque além da contribuição para a sociedade, aqui já dita, a essência para os mais jovens - o treino e a competição - prevalece em ambos contextos. Então, pensar na DESPORTIVIZAÇÃO NA ESCOLA faz mais sentido se pensarmos em inova-la, ou seja, pensarmos em ESCOLARIZAÇÃO DO DESPORTO. Neste novo pensamento, abandonaríamos as aulas de EF fragmentadas em conteudos desportivos - repetitivos- e descontextualizados do projeto pedagogico escolar, isto é, sem acompanhamento pedagógico adequado, dando sentido de estar praticando o "fazer por fazer". Dando lugar para a criação da cultura esportiva nas escolas, que não se esgota nas aulas de EF, ou seja, é dar espaço para que os alunos - por sí só - organizem e criem uma cultura esportiva neste ambiente - aqui o professor de EF entra como mediador dessa tarefa-,que perdura nos intervalos, nas atividades extracurriculares, nos treinos e competições escolares. Buscando ligação com os clubes desportivos estimulando a procura dos alunos para a pratica desportiva na escola e fora dela.

concluindo, o desporto praticado na escola é uma ferramenta insubstituível no processo de ensino-aprendizagem dos alunos, e que repercuti na formação e educação de jovens e crianças. Dessa maneira, aqui vimos que a DESPORTIVIZAÇÃO ESCOLAR possui mais sentido se pensar na ESCOLARIZAÇÃO DO DESPORTO, buscando um senso comum entre os gestores da escola e do professorado.

AGORA DEIXA EU IR COLOCAR EM PRATICA TUDO ISSO QUE FALEI!!!!! hahaahaha Abç a todos!!!!